O Medo do Fim
“Na natureza nada se cria e nada se perde, tudo se transforma”.
Antoine Laureant Lavoiser – Químico francês
Qual é a natureza íntima do Espírito?
– Não é fácil explicar o Espírito com a vossa linguagem. Para vós, ele não é nada, visto que o Espírito não é algo palpável, mas para nós é alguma coisa. Sabei bem: o nada não é coisa nenhuma, o nada não existe.
O Livro dos Espíritos – Pergunta 23a
Quando se estuda o Espiritismo, uma ideia fica muito clara, a partir de um certo momento: a Criação, na verdadeira acepção da palavra, pertence a Deus.
E nós, espíritos que somos, temos um início, mas não temos um fim.
O homem, a partir de um certo grau evolutivo, depara-se com um problema que o preocupa, seja na forma ostensiva ou inconsciente, num sentimento inato. É o problema do ser.
No ser, ele fica refém do destino até que suas faculdades intelectuais e morais permitam que possa arbitrar grande parte dos rumos de sua vida.
E na romagem das vidas, o homem tem muitas vezes a companhia da dor.
Na obscuridade dos conhecimentos acerca dos assuntos do espírito, este mesmo homem tem amargado colheitas malsãs de sementes de erros que o remetem a vislumbrar suas vidas apenas no apertado horizonte material.
Chega o momento em que pelo menos três perguntas pululam em nossas individualidades: Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos?
Quando restritos à vida material, a noção que temos é que tudo se encerra na morte. E que a morte seria o fim. E aí vem o medo do fim.
No homem animal o medo do fim é ato da Providência, que lhe preserva a vida biológica cujos nobres fins lhe serão claros à medida que evolve sua consciência.
No homem espiritual, o medo do fim é mais profundo. É o medo da dúvida do que será. É muitas vezes o débito contraído de maus atos que o vem cobrar, por sua própria consciência. É também a certeza do caminho já conhecido, no seu mais recôndito inconsciente.
Na fé que desenvolvemos no Espiritismo, que é chamada de uma fé raciocinada, existe um axioma incontestável: “(…) não há efeito sem causa. Procurai a causa de tudo o que não é obra do homem, e a vossa razão vos responderá.” (O Livro dos Espíritos – Pergunta 4).
Tomando Deus por ponto de partida, chegamos a nós – e aí está a resposta – somos criaturas de Deus, Dele viemos e para Ele volveremos.
Na senda de nossas existências, a direção é uma só, assim como único é o desfecho final das inteligências: a perfeição.
Para melhor trilhar este caminho, desviando dos percalços, reerguendo-se dos combates morais urge uma nova visão do Universo. A visão que contempla algo maior que nossas acanhadas percepções sensoriais biológicas.
A visão que contempla a Lei de Causa e Efeito, cuja compreensão o homem terreno dispõe da capacidade de, além de entendê-la, transformar este entendimento em mudança de si mesmo, açambarca a noção da sua responsabilidade com a direção e o ritmo desse caminho evolutivo.
A vida material se encerra aqui, como encerrou-se em outras existências. Mas a vida espiritual é a essência eterna que, vestindo-se de inúmeras roupagens carnais, foi-se compondo como espírito.
Na troca dessas vestes através dos tempos, adquirimos conhecimentos, modificamos nossa verdadeira essência, que é o espírito, através das relações morais e materiais com irmãos dessa infinita viagem que é a vida.
Entendendo estes conceitos, tendo a convicção de que a distância dos que amamos é temporária, que nosso destino é consequências de nossas escolhas e que Deus sempre nos oportuniza redenção, tornará nosso medo do fim em consolo.
Conquistando mudanças em nossa tela mental que nos permita disciplinar nossa busca do melhor caminho com trabalho, doação e humildade, nos trará a esperança.
Enxutas as lágrimas do passado e vislumbrando o sol da felicidade futura, conscientes dos objetivos que nos cabem, teremos a fé.
Aí transformaremos nossos medos em certezas, em tranquilidade na espera do que virá.