O nosso direito ao silêncio

Capão da Canoa lembra as cidades do Velho Oeste, retratadas nos filmes de caubóis americanos, aonde o “xerife”, autoridade máxima do lugar, não ia além de mera figura decorativa, carente de força e ousadia para fazer valer a palavra da lei e da ordem.

Nos filmes, a turba ruidosa invadia, em louco e desvairado galope, a Rua Central, provocando a correria para lugar seguro dos cidadãos que por ali transitassem, tiroteando a esmo para, finalmente, refestelar-se no Saloon para tragar um puro Jack Daniel’s.

Por que a comparação que – à primeira vista – poderá ser ofensiva à imagem da cidade que escolhi para morar, pagar religiosamente os tributos e eleger seus agentes públicos, responsáveis, pois, pela manutenção da ordem?

Capão da Canoa é uma cidade extrema, permanentemente e, sem lógicas razões que a sustentem, ruidosa.

Houvesse – ao contrário das cidades dos filmes de faroeste – as básicas e fundamentais providências dos agentes do “xerife” (ungido pelo voto do povo), no sentido de fiscalizarem os motoqueiros e os ”manezinhos dos pick-ups”, os ordeiros trabalhadores e aqueles que, dentre outros aspectos, encontrariam no silêncio a tão buscada qualidade de vida, veriam respeitado o direito ao silêncio.

Quando afirmo fiscalizar, é “mexer-lhes nos bolsos”, por que a Lei assim o (“xerife”) respalda. Alternativa outra não há para impor a palavra de ordem se não recair na multa pecuniária.

Que razões levam os motoqueiros (motociclista é categoria outra, a que conhece e respeita os cânones do trânsito e das condições de trafegabilidade de seu veículo) a desconhecer o que seja o acessório chamado surdina? Que motivos levam os “manezinhos da praia”, desde a hora mais matutina, a “bombardear” as ruas da cidade com seus “bate-estacas” de mil decibéis?

Para o filósofo O. John, “O silêncio acalma e traduz a paz de consciência e de espírito. Ao cruzar com um carro com um som retumbante, concluo que, em seu interior, está um indivíduo por demais perturbado, cuja “terapia” é abafar estrondosamente seus traumas, suas neuroses, seus complexos e sua sexualidade não realizada”.

Não creio que seja, a rigor, essa a tão severa definição do filósofo para os barulhentos. Entendo, isto sim, que aquela postura comportamental está mais para um pueril, infantil estímulo de autoafirmação para “mostrar” aos demais que evoluiu(?) na escala econômica e pôde, finalmente, adquiriu um bólido, flamante e suspensão rebaixada, com um som de boate na carroça. Apenas isso!

E durma-se com um barulho desses!

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