O Pará e a falcatrua de um plebiscito encomendado
Tive a oportunidade de conhecer o Pará, assim como os outros estados da Amazônia Legal. O Pará é mais um daqueles lugares onde não importam os direitos civis das pessoas comuns. As gigantescas propriedades, ou mega latifúndios são, na grande maioria, terras ‘griladas’, com documentação forjada nos joelhos e ‘esquentada’ em cartórios controlados por familiares ou apadrinhados políticos daqueles que mandam.
Imagine se Santa Luzia resolvesse buscar a emancipação de Osório, assim como já o fizeram Tramandaí, Capão, Mostardas, Palmares do Sul, enfim. Estes outros, enquanto distritos, levantaram suas pretensões e obtiveram êxito ao pleito principalmente porque o município mãe, no caso Osório, não fazia muita questão em manter tais localidades sob sua tutela. Mas, no caso do Distrito de Santa Luzia, há um pequeno grande detalhe: ali está a sede da TEDUT (ou Refap), ou seja, da Petrobrás. E isso muda tudo. Em primeiro lugar, a exemplo do Pará, apenas para se ter uma idéia do que ocorreu pelas bandas do estado lá do Norte, se faria um ‘plebiscito’ em Osório, onde todos os jornais e rádios locais, ficariam o tempo todo lembrando aos osorienses o quanto a falta dos recursos do ICM e royaltes da Petrobrás prejudicariam a educação, a saúde, o hospital que fecharia as portas, a habitação sem poder construir suas casas, funcionários municipais seriam demitidos, etc. Muitos interesses estariam em jogo. Mas o plebiscito é uma ferramenta legítima e democrática. Legítima eu concordo. Mas Democrática? Nem a pau Juvenal… Se não, voltemos ao caso de Osório: 42 mil habitantes com pouco mais de 32 mil eleitores contra o pequeno e indefeso povo da Santa Luzia. Sem dúvida alguma o resultado seria um NÂO retumbante. O exemplo fica prejudicado porque Santa Luzia está uma maravilha, com ruas asfaltadas, escolas, porto de saúde. Imagine esta Santa Luzia como se um “Agual” fosse, apenas para entender o abandono do interior paraense.
Pois no Pará foi exatamente isto o que aconteceu. Os ‘quase’ estados de Tapajós e Carajás não detém 30% da população do Estadão do Pará. Belém, com seus quase 2 milhões de habitantes, chega a 3 milhões, considerando a ‘grande Belém’, ou a região metropolitana. Apenas aquela parte que continuaria sendo Pará conta com mais de 50% da população total do estado. Na região Norte, quem conhece e pode comprovar isso e quem não foi já pode ter visto na TV, as eleições oficiais ocorrem com um aparato imenso, com apoio do exército, com uso de ‘batelões’ (barco com motor de rabeta à gás) levando urna por todos os rincões das florestas, singrando rios e cavocando eleitores por todos os grotões. A abstenção do ‘plebiscito’, agora, chegou a 27% (isso é quase 1,5 milhões de pessoas, num estado com pouco mais de 5 milhões de votantes). Não foram divulgados resultados por localidades, para termos uma idéia do enorme aparato colocado a disposição dos eleitores da capital Belém e municípios do que continuaria sendo Pará para compararmos com os números do restante do estado. Obviamente, Tapajós e Carajás devem ter obtido 98% dos votos válidos em apoio ao SIM, embora com uma abstenção altíssima, em razão das distâncias e dos grotões. No compito geral, baseado no que a mídia oficial divulgou, os números de Belém fizeram uma enorme diferença.
E o que está por trás de todo o interesse do Pará em se manter como está, em detrimento do descaso com toda a população do interior? DINHEIRO.
A VALE DO RIO DOCE, a 2ª ou 3ª maior mineradora do Mundo, e disparada a maior empresa brasileira, tem sua sede em Carajás. Não conseguimos ter idéia do volume absurdo de ICM que o pequeno pretendido novo Pará, em alguns anos, perderia, caso brincasse de fazer ou permitisse que se fizesse a coisa de forma diferente. Apenas para refrescar a memória dos nossos leitores, nenhum outro desmembramento de estados foi decidido por plebiscito, ou seja, fora do Congresso. Já tivemos, recentemente, a divisão de Goiás, com o nascimento do Tocantins, e as divisões do Mato Grosso. Tudo foi feito via decisão dentro do congresso.
Agora, resolveram bancar os espertos e “convenceram” a opinião pública de que um Plebiscito seria a forma mais adequada de resolver o que, afinal, seria melhor para o Pará. Piada. E piada de muito mal gosto. E ainda temos que ouvir o Alexandre Garcia, defendendo os interesses das organizações Globo (sócia da Globo do Pará), falando que “o Pará disse não à separação”. Quem disse isso foi apenas aquela pequena área onde concentra a maior parte da população (e que toma conta da grana) e que seria o novo Pará. Foi o Jader Barbalho que mandou dizerem NÃO. Foi Belém que disse não. Ou melhor: Belém disse: NÂO! DE FORMA ALGUMA PODEMOS PERDER A VALE DO RIO DOCE E SEUS TRILHÕES EM ICM…
E agora, na semana seguinte, o STF (Supremo Tribunal Federal), liberou a posse de Jader Barbalho no Senado, após um pedido de líderes peemedebistas ao presidente da corte, Cezar Peluso. Apesar de toda a podridão por trás do coronel do Pará, o STF ‘mudou’ de idéia. Depois eu é que sou ‘lunático’… e vai ver que isso tudo é pura teoria da conspiração…