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O (quase) impossível sonho

Desde o dia em que, aos oito anos, meu pai levou-me por vez primeira à pequena e promissora Feira do Livro de Porto Alegre, desenvolvi, a partir dali, minha grande paixão: os livros. Tornei-me, assim, o que até hoje sou: um voraz leitor. E dentre as leituras (e, após, os filmes) de minha adolescência, está  a inigualável obra de Júlio Verne (08/02/1828-24/03/1905): “Cinco Semanas em um Balão” (1863), “Viagem ao Centro da Terra” (1864), “Da Terra à Lua” (1865), “Vinte Mil Léguas Submarinas” (1869) e “A Volta ao Mundo em 80 Dias” (1872).

Verne foi um dos primeiros escritores a praticar uma literatura na linha da moderna ficção científica. Ele previu, dentre outros inúmeros inventos, a televisão; o helicóptero; o cinema falado; a iluminação a néon; o ar condicionado; os arranha-céus; os mísseis teleguiados; os tanques de guerra; os veículos anfíbios; o avião; a caça submarina; o aproveitamento da luz e da água do mar para gerar energia; o uso de gases como armas químicas.

Bem mais tarde, vieram Isaac Asimov (02/01/1920-06/04/92) com “Eu Robot” (escrito em 1947) em torno de três leis da robótica, em que ele luta contra todas as formas de racismo, e Arthur Klarke, que, em 1968 escreveu o roteiro de 2001: Uma Odisséia no Espaço, dirigido por Stanley Kubrick, que visualizava, não apenas a chegada do homem à Lua, mais de um ano antes de Neil Armstrong chegar até lá, mas também por haver realizado o primeiro filme a levantar a hipótese da inteligência artificial.

Esses homens, sobretudo Verne, foram certamente tachados de loucos, visionários. No entanto, o tempo veio demonstrar que eram seres demasiadamente à frente de seu tempo.

Após a viagem que realizou no ano de 2000, entre Sevilha e Madri (550 quilômetros), em 2h15m, a bordo de um trem-bala, o deputado Paulo Azeredo (PDT) nunca mais abandonou o sonho da implementação daquele meio de transporte ligando Porto Alegre a São Paulo em apenas quatro horas.

Outro louco, outro visionário com pretensões a ser a reencarnação de um Júlio Verne, de um Asimov? Alvo do escárnio de muitos, Azeredo luta para obter o competente aval da Assembleia Legislativa para enviar ao governo do estado proposta para estudos da viabilização de projeto para a construção da via férrea ligando as duas capitais. Não obterá, a curto e médio prazo, a sonhada vitória.

Como aspirar ao desenvolvimento nesse fundamental e futurístico meio de transporte público num país em que os poderosos cartéis das empresas transportadoras ditam impunemente sua cartilha de violência e abusos, e a saúde, a segurança e a educação sucumbem, em longo e trágico estado comatoso, ante a megalomania do governante maior e seus prosélitos, que focalizam os interesses e as atenções para, estes sim, os babilônicos sonhos, sediar, respectivamente, em 2014 e 2016, a Copa do Mundo de Futebol e as Olimpíadas?

Enquanto isso, na aldeia, o deputado Azeredo permanecerá na sua quixotesca cruzada contra os moinhos de vento.

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