Observo o retrato, amarelado pelo tempo, em que aparecem comigo meus pais e minha irmã. Estamos na beira da praia, de cabelos molhados, sinal de que havíamos recém saído da água.

Através da data percebo que meu pai ainda é jovem, embora aparentasse mais idade na fotografia. Minha mãe, não! Está bonita, com um maiô preto. Estou ao seu lado; junto ao meu pai, minha irmã. A cena, de certa forma espontânea, denota um conteúdo freudiano, o que certamente diria um psiquiatra, caso analisasse a fotografia…

Lembro-me daquele veraneio. Implicava e resistia em calçar sandálias “Franciscano”, pois achava que aquilo não era “coisa de homem”. Preferia andar com os pés descalços.

 À noitinha, na frente do hotel, os hóspedes sentavam em cadeiras de vime, num grande avarandado, e ficavam “gastando o tempo” numa conversa morna e típica de veraneio. E eu sorrateiro, por duas ou três vezes, espantei minha mãe e sua roda com sapo na mão, apanhado de um brejo próximo.

Embora a distância dos anos, tenho viva na memória aquelas férias: o hotel, as longas caminhadas até o mar, sobretudo o cheiro da maresia, as artes da minha irmã e as altas dunas na beira da praia. A viagem fora de “carro-de-praça”, conduzido pelo “seu” Vitorino, que ao final do veraneio – previamente combinado – nos buscava de volta.

Não repetimos o veraneio no ano seguinte. Minha mãe adoecera. Sua última temporada com saúde ficara registrada no retrato que agora contemplo em minhas mãos. Embaixo, em letras brancas e irregulares, consta: “Lembrança de Tramandaí. 1956”.

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