Odisseia
Eis que ecoa no topo do monte Olimpo uma voz que tem ressoado pelos quatro cantos do universo. É a voz de Zeus chamando os seus para uma reunião importante, que visa botar ordem em um sistema que hoje segue a tendência natural das coisas – a desordem. Mas por que isso agora?
Parece que Afrodite, a deusa do amor e da beleza, se encantou com as boas roupas de Milão e por lá mesmo ficou tornando-se uma modelo de grande destaque. Poseidon, o Deus dos mares, resolveu embarcar num cruzeiro e parece que hoje se encontra lá pela China, cuidando dos carregamentos de minério de ferro que não param de chegar lá. Apolo, Deus da luz e das obras de arte, foi para Paris fazer um curso e estudar filosofia; Ares, a divindade da guerra, migrou para o Afeganistão atrás de mais emoção; Cronos, o Deus da agricultura, diz que só voltará a trabalhar se receber mais subsídios do governo central à sua produção e também exige que seja barrada a importação da soja brasileira; Eros, Deus da paixão, se juntou com Dionísio, o Deus das festas, e foram ambos para Ibiza curtir a vida; e, por fim, Hermes, Deus dos comerciantes e dos ladrões, abandonou o país atrás de novas oportunidades, tendo conseguido um cargo de chefia num grande banco americano e parece estar se dando bem por lá. Pois é, só sobrou Zeus, Deus dos deuses, e Hades, o Deus das almas dos mortos, que por lá fica, como um corvo à espera da ruína da Grécia e, quiçá, da combalida Europa.
A Grécia, quando passou a fazer parte da Comunidade Europeia, se vislumbrou com a possibilidade de, através de uma moeda forte, ter um padrão de consumo que não condizia com a realidade de sua economia. A Grécia gastou bem mais do que podia na última década, pedindo empréstimos pesados e deixando sua economia refém da crescente dívida. Nesse período, os gastos públicos foram às alturas e os salários do funcionalismo praticamente dobraram. Enquanto os cofres públicos eram esvaziados pelos gastos, a receita era atingida pela alta evasão de impostos, prática generalizada no país. Deu no que deu, ou seja, crise econômica! A mesma que nós “povos bárbaros” que somos já passamos quando declaramos moratória.
O resultado foi uma semana de baixa no Ibovespa com o índice fechando nos 67.529 pontos, uma queda de 2,85%.
Ficamos no aguardo de algum ato milagroso de Zeus, ou acreditando na benevolência de outros deuses e heróis, para sustentar a tão bela cultura helenística.