Resolvi passar o Ano-Novo na praia. O primeiro obstáculo foi vencer – ida e volta – o movimento da Free Way, os acelerados e celerados motoristas. Se, por um lado, há trechos em boas condições, outros são péssimos, com buracos que, de tão grandes e antigos, parecem conservados com afeto e carinho pela concessionária. E a insensatez: paga-se – e bem! – para percorrê-la.

Aos trancos, cheguei a casa. E a desdita continuou. A fechadura do portão estava emperrada. É a maresia – deduzo. Socorro-me de um chaveiro. Em dois minutos ele abre o portão. Insiste que o preço do serviço é cem reais. Argumento que, certamente, nem o Sarney em tão curto tempo solapa tanto. Ele ri e concorda em deixar pela metade, e se vai…

A praia suja, o lixo acumulado me deu a impressão de que, igual aos outros anos, a coleta não funciona. Aliás, tudo parece como nos anos anteriores: o mesmo descaso, a mesma incompetência, a mesma sensação de ser usurpado pelo poder público. Que triste destino o dos veranistas! O que fazem com o dinheiro que arrecadam? Esta é – tenho certeza – a pergunta mais repetida pelos desvalidos proprietários do Imbé.

Logo a noite veio, e o vizinho dos fundos pôs tocar a todo volume um vanerão que seguiu até a madrugada. E me fez pensar: “deveria ser proibido alardear a incivilidade”. Paciência, Sartre me consola: “o inverno são os outros”.

A manhã seguinte trouxe uma chuva fina e o vento. Saí à procura de víveres e algo para ceia do Ano-Novo. Era quase impossível andar pelo trânsito. Uma vaga no estacionamento do supermercado era disputada quase no tapa. Dentro, precisava-se de paciência bíblica para tocar o carrinho. As pessoas se acotovelavam. Faltavam mercadorias das mais corriqueiras como sardinhas, por exemplo. O supermercado que não tem sardinhas em lata tem de fechar as portas e receber um lacre em vermelho: “Incompetente”.

E lembrei “Falling Down”, com Michael Douglas; tive ímpeto de reviver a personagem. Depois de mais de duas horas dentro do supermercado, enfim, consigo sair. As ruas estavam alagadas, algumas intransitáveis. E haja marcha à ré a cada rua inundada! 
A chuva continuou pela tarde, e o vento aumentou. Temi por uma árvore na frente de casa. Mas ela resistiu.  E veio a notícia: “faltou água”. Abri a torneira: apenas um ronco engasgado e um leve pingo saíram. A luz apagou e só voltou duas horas depois. À noite, exausto, comi uma fatia magra de presunto e dormi antes de romper o ano.

No primeiro dia da Graça de 2012, pontualmente, às oito horas, com indisfarçável sorriso de vitória deixei a orla, mas possuído de certo vazio existencial, tendo a certeza de que no próximo fim de semana tudo se repetirá.

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