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“Onde está tudo agora?”

O fim de março e o início de abril é recorrente: impossível não se lembrar do Golpe de 64 e os fatos que se sucederam, especialmente, a supressão das liberdades, a edição do Ato Institucional Nº 5, o endurecimento do regime, a luta armada, o sonho de parte de uma geração que se viu silenciada e, posteriormente, a decepção e a frustração com o que se desdobrou no período pós-redemocratização.

Na luta contra a ditadura militar, de peito aberto, entre outros, aparece a figura de Fernando Gabeira.

Primeiro como jornalista, depois como militante e protagonista de uma das mais espetaculares ações contra o regime: o seqüestro do embaixador americano, Charles Elbrick, episódio, aliás, contado no seu livro “O Que Isso, Companheiro?”, depois transformado em filme.

Preso pela repressão Gabeira acabou sendo trocado pelo embaixador alemão Ehrenfried von Holleben, e, banido do país, a princípio, foi viver na Argélia.

Pois esse lado da vida de Gabeira no exílio, que não foi abordado no seu primeiro livro, agora se tem oportunidade de conhecer na nova obra do jornalista. Nela Gabeira conta-nos a sua vida fora do Brasil, as suas reflexões, principalmente sobre o existencialismo sartreano – cujo pensamento se debruçou com intensidade –, seu treinamento em Cuba, a vida no Chile e na Europa. Gabeira sacrificou parte da sua existência por pretender um mundo mais justo – concorde-se ou não com o método que adotou. Pagou por isso e, como apátrida, perambulou pelo mundo.

Depois, anistiado, de volta ao Brasil, teve intensa vida parlamentar por vários anos em Brasília. Concorreu à prefeitura e ao governo do Rio. Narra sua filiação ao PT e o rompimento posterior com o partido. Na sua narrativa fica clara uma visão niilista – e com sobradas razões – do que hoje, politicamente, nos envolve.  Toda essa bagagem nos é contada no seu novo livro, lançado pela Companhia das Letras, “Onde Está Tudo Aquilo Agora?”, em texto impecável, onde o autor se debruça sobre o fisiologismo, as contradições da nossa política partidária, a corrupção sem que escape da sua análise o mensalão. O velho guerrilheiro nesta obra se supera e, também, nos comove.

O livro se lê de um só fôlego, e é – garanto – uma boa sugestão para procurar na Feira do Livro de Capão da Canoa, cujo início está marcado para este “feriadão”.

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