Quem não viu “La Dolce Vita” e gosta de cinema, é só procurar em alguma locadora que encontrará uma cópia. Vale a pena.  Suponho que seja o marco maior da transição do neo-realismo para o simbolismo do cinema italiano. A cena em que se passa na Fontana di Trevi com a maravilhosa Anita Ekberg, no esplendor da sua sensualidade é antológica. Mastroiani é soberbo, e Fellini mostra a genialidade de um dos maiores diretores do cinema de todos os tempos.

O filme consagrou também a figura do fotógrafo que incomoda as celebridades, sempre atento com sua câmera a um flagrante raro. O personagem é encenado por Walter Santesso, que tem o nome de Paparazzo. Pois essa espécie de fotógrafo – os que chafurdam a vida alheia – passou a ser chamado de “paparazzi”.

Lembro que Jacqueline Onassis foi fotografada nua numa ilha grega por um desses mequetrefes fotógrafos. Na época, as fotos correram o mundo estampadas nas principais revistas e jornais. E cá para nós, o sucesso das fotos deveu-se mais à notoriedade de “Jackie” do que – digamos assim – pelas suas curvas, seios e pernas torneadas. Na verdade, a “pobre” Jacqueline não tinha nada a mostrar.

Certa vez, em Porto Alegre – que mau gosto! – fotografaram um zagueiro do Internacional no vestiário, só de sunga depois de uma partida. A foto publicada num jornal causou furor. Recordo que o presidente da Federação Gaúcha de Futebol, na época, em protesto, suspendeu a rodada seguinte do campeonato.

Quem mais sofreu com as perseguições dos paparazzi foi a Princesa Diana – que Deus a tenha – para mim de ridícula memória. A fuga alucinada dos fotógrafos pelas ruas de Paris custou-lhe a vida. Hoje, basta trazer um celular no bolso que, com ele, carrega-se também uma máquina fotográfica e uma filmadora. Qualquer um com o telefone pode ser um paparazzo; basta estar no lugar certo. E as pessoas assim, sem sentir, aos poucos, vão perdendo a sua privacidade.

Essa semana os jornais dão conta de uma cena impressionante: em Guwahati, na Índia, um leopardo deixou três pessoas feriadas. Diz a notícia que a fera invadiu uma casa, atacou um homem, arrancando parte do seu couro cabeludo.  A foto da cabeleira arrancada do crânio com a pele ainda pendurada circulou em pelo mundo.

O episódio foi fotografado pelo paparazzo, Mans Paran, que, em entrevista, disse que entrou na casa, tirou oito fotografias e, rapidamente, fugiu antes que a fera contra ele se voltasse.

Aos paparazzi a solidariedade pouco importa. O que vale verdadeiramente é uma trágica fotografia ou uma pose de uma celebridade para, logo adiante, por alguns dólares, ser vendida para o deleite dos leitores que se comprazem com a excentricidade ou com a tragédia humana.

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