Por um punhado de pinhão e linguiça
Diz a lenda…, O domingo de dezembro de 1954 seria um dia de festa para a torcida corintiana, afinal o “Timão” receberia, em jogo amistoso contra o Palmeiras, a faixa de campeão paulista de futebol.
O fiel torcedor, devidamente engalanado, passe cortesia dado pelo presidente do clube nas mãos, rumou para o Estádio Municipal do Pacaembu.
Então, o imponderável: o passe destinava-se a jogo em data passada. Olhos marejados pelas lágrimas da humilhação, o fiel torcedor olhou para o grande mastro onde tremulava o pendão corintiano e fez a jura, Enquanto viver, o Corinthians jamais será campeão.
O clube somente voltou a sê-lo após vinte e três anos de jejum.
Na pequena aldeia, à orla do oceano, também diz a lenda…, o poeta recolheu em cada duna as rimas para os seus versos, as personagens do romance e os mistérios para a trama das crônicas e dos contos. Compilou-os num livro, a capa das mais belas. Com o vinho generoso, abriu as portas da sua casa e esperou os amigos para, juntos, navegarem no doce mar da poesia, na magia da prosa.
Os cálices translúcidos à espera do aroma inebriante das mais finas uvas assim permaneceram na noite então gélida. As rimas deixaram-se dispersar pelo vento na direção da montanha e dos lagos. O poeta, ante a amarga solidão imposta pela ausência de quem tanto acreditava, dos amigos que relegaram a celebração às deusas Atenas e Minerva por um saco de pipoca e um punhado de pinhão assado nas festas juninas ou pelo bailão da linguiça e da cachaça, onde vicejavam, ao mesmo tempo e num só lugar, o longo de musselina/a calça jeans e a bota longa de um branco desbotado, o terno e gravata/o tênis e a jaqueta de moletom.
O poeta juntou os cacos da poesia, mirou a triste e mesquinha aldeia, agora silente, e vaticinou, Enquanto viver, deste chão estéril não há de brotar a delicada flor da cultura.
Isso aconteceu há cinco mil anos atrás…