Colunistas

Pra não dizer que não falei nas flores

Existe um povo que a bandeira empresta
P”ra cobrir tanta infâmia e cobardia!
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
(Castro Alves, in Navio Negreiro)

Fui membro do Conselho Municipal de Cultura e integrante da Comissão Organizadora da Feira do Livro de Capão da Canoa.

Por esta razão, sinto-me confortável tecer em minha coluna semanal – como de fato o venho fazendo nas últimas semanas – considerações sobre o favorecimento e holofotes para evento não apenas idealizado recentemente, sobretudo díspar em seus meios e fins, planejado para iguais datas e horários aos da Feira do Livro, estigmatizando-a a mero “complemento” dos que, equivocadamente, entenderam ser (o outro) mega(?) acontecimento. Onde ficou quem mais deveria reafirmar seu apoio e fortalecimento à Feira da Literatura? Não entendo o Departamento de Cultura como comezinho joguete a serviço do que não deveria ser de sua alçada (o mega(?) acontecimento)!

Minha opinião, neste caso, independe de minhas circunstâncias! E, em se tratando de Cultura, contraditando Voltaire (ensaísta, escritor e filósofo iluminista francês), não concordo com uma só palavra dos argumentos dos que a minimizaram (Feira do Livro), e defenderei até a morte o MEU direito deles discordar!

Daí porque a reivindicação mais do que justa da criação de uma Secretaria da Cultura. Não estou sozinho nesta ótica. Acompanham-me, além dos muitos poetas, escritores, historiadores, professores, artistas, os confrades Artur Pereira dos Santos (imperdível a leitura de “Eventos” – crônica publicada neste Costa do Mar & Serra, edição do dia 11 último) e Erner Machado (com “Pão e Circo” – crônica da edição de 22/03 de A Folha do Litoral). Erner, com a lucidez que caracteriza suas crônicas diz: “A política do Pão e Circo (panem et circenses) era o modo com o qual os líderes romanos lidavam com a população que, não tinha qualquer interesse em assuntos políticos (e culturais), e só se preocupava com o alimento e o divertimento” (o parêntese é meu). Erner Machado finaliza: “Basicamente, estes “presentes” ao povo romano garantia que a plebe não morresse de aborrecimento. A vantagem  de tal prática era que, ao mesmo tempo em que a população ficava contente e apaziguada, a popularidade do imperador entre os mais humildes ficava consolidada”.

Ao que parece, convenientemente e bem aprendida a “lição”.

Vêm-me à lembrança as derradeiras palavras de Galileu Galileu, o mais importante Físico, Matemático e Astrônomo italiano dos Séculos XVI e XVI: “Eppur si muove…” (mas ela [a Terra] se move!), morto pela fogueira da Inquisição porque defendia a tese de que a Igreja católica estava equivocada sobre dizer que a Terra era o centro do Universo:

Assim como a Educação, a Cultura é também uma estrela ao redor da qual hão de orbitar no Universo do Conhecimento todos os demais “cometas” e “pequenos asteroides”. A Cultura é o infinito jardim onde as flores vencem o canhão. A Cultura, através do Patrimônio Histórico, da Literatura, da Poesia, da Prosa, do Folclore, das Lendas, da Tradição, da Música Nativa e das Artes Cênicas, Plásticas e Fotográficas, constrói a verdadeira História e a Identidade de um povo.

O resto é circo!

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