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Presidente do Ipea defende jornada de 12 horas semanais

A criação de um novo padrão civilizatório mundial abre o debate em torno da questão social e do estudo  ligado não mais à escola nas fases do homem enquanto criança, mas vinculado à vida ao longo do tempo. Foi o que  disse ontem (6), no Rio de Janeiro, o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Márcio Pochmann, no seminário Instituições para Inovaçãol. “Depois de adulto, não se abre um livro, não se estuda mais”, observou.

Esse é um fator negativo, uma vez que as exigências da sociedade moderna são crescentes e envolvem o conhecimento e o saber. “Por isso é que para financiar escola para a vida toda é fundamental algumas fontes de financiamento”, explicou Pochmann, referindo-se à chamada produtividade imaterial, que geraria cerca de US$ 200 trilhões em riqueza no mundo.

Isso criaria condições para que a jornada de trabalho, realizada no  local de trabalho, por exemplo, não superasse 12 horas/semana, sendo três dias de quatro horas/dia, porque o funcionário trabalha também fora do emprego, pelo celular etc. E o homem poderia ingressar no mercado de trabalho somente aos 25 anos de idade, afirmou Pochmann.

“Não há necessidade de todos trabalharem. Se nós olharmos  os últimos 200 anos, esse é o movimento de libertação do trabalho heterônimo. As jornadas eram de 16, 18 horas por dia,  as pessoas começavam a trabalhar aos  cinco ou seis anos de idade e trabalhavam até morrer. No século 20, na sociedade urbana industrial, as pessoas começaram a trabalhar aos 15, 16 anos de idade, trabalham 35 anos no máximo e a jornada de trabalho é de oito horas diárias,  descontando sábados, domingos e feriados”.

Por trabalho heterônimo entende-se o trabalho pela sobrevivência, que necessita ser  superado de modo a que o homem atinja o trabalho autônomo, segundo explicação da área técnica do Ipea.

Pochmann acrescentou que no século 21  os ganhos de produtividade material e imaterial  abrem espaço para que se trabalhe menos. “É possível, tecnicamente, se trabalhar menos: 12 horas por semana e começar mais tardiamente”. Destacou que mesmo no caso do Brasil, “os filhos  dos ricos começam a trabalhar  depois dos 25 anos de idade. Somente os filhos dos pobres estão condenados a trabalhar muito cedo. E, ao começar muito cedo no trabalho, eles praticamente se afastam das possibilidades de ter os melhores empregos e as melhores remunerações”.

Se o Brasil deseja ser  de fato uma República, destacou Pochamann, precisa ter igualdade de direitos. “E, na verdade, nós não temos direitos  e oportunidades equivalentes no país”. Advertiu, entretanto, que embora existam condições técnicas para que o homem trabalhe menos e estude mais, é necessário que haja vontade política para que isso se efetive. “Esse é um processo político que tem que se combinar. A economia permite esse salto. Agora, é a política que viabiliza concretamente”.

Segundo Pochmann, isso exige transformações profundas em relação ao que existe hoje no Brasil. Lembrou que para  que a jornada de 16 horas semanais de trabalho caísse, em alguns países, para oito horas  foi preciso acontecer o voto feminino. A  democracia em que votavam apenas os ricos e os homens foi mudada para uma democracia de massa. “Eu acredito que para que todos  possam  participar  dessas novas oportunidades, nós temos que avançar muito mais da democracia   representativa para a democracia participativa, ou seja, para a democracia direta”.

Conforme Pochmann, países com grandes territórios, como China e Brasil, têm muitas desigualdades em termos de trabalho, em relação à jornada e salários. “Aqui no Brasil, nós temos  relações de trabalho do século 21 aliadas a relações do trabalho do século 19”, citou. Esclareceu que o papel da política pública  é fazer com que  haja um salto nesse campo.

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