Protagonistas – 1000 X 0 – Soberba e pequenez club
Há exatos quatro minutos encerrou-se uma das mais belas comemorações de aniversário de um clube e da reinauguração de seu estádio de futebol.
Sou gremista.
Estou com coração e mente transbordantes de emoções. Afinal, a história de 45 anos revisitada com seriedade, inteligência, sobriedade e pesquisas extremamente confiáveis, não de um clube de futebol, não apenas de uma já não mais alegre cidade localizada no Paralelo 30º onde uma Nuvem Passageira era o prenúncio de que abandonaria outros pagos e, deu prá ti, baixo astral, vou voltar pra Porto Alegre, tchau, mas de um Brasil ainda sufocado por um regime de exceção, de um mundo convulsionado em guerras, e o imperialismo selvagem impondo sua globalizada dominação.
Sou gremista.
Em que pese minha idolatria pelo tricolor da Baixada, onde, aos três anos, pelas mãos de meu pai, assisti ao cotejo primeiro de futebol de minha vida, trago ainda o peito transido pela emoção de ser testemunha de que ainda existe, sobretudo, a gratidão, sentimento tão relegado nos dias de hoje.
A solenidade de reinauguração do Estádio Pinheiro Borda – o Gigante da Beira Rio –, casa do arquirrival do time do meu coração, foi muito mais do que um megaevento onde a competência e o espírito de gratidão e reconhecimento – ponto alto da festa – àqueles que efetivamente foram os protagonistas dessa vitoriosa caminhada do Sport Clube Internacional: Larry, Scalla, Manga, Dorinho, Caçapava, Escurinho, Dadá Maravilha, Claudiomiro, Pinga, Príncipe Jajá, Figueroa, Cláudio Duarte, Falcão, Valdomiro, Gabiru, Clemer, Rafael Sobis, Tinga, Fernandão e tantos outros que minha memória, por ora, não alcança, mas que não foram em momento algum olvidados pelos organizadores da solenidade.
Sou, ainda, gremista
Protagonista, indubitavelmente o maior, por tudo o que enfrentou nesses últimos dois anos e, como autêntico gaúcho, contrariando quem sabe escusas cláusulas contratuais que, seguramente comprometeriam a si e ao clube que dirige, “matou” a bola no peito e virou a mesa afirmando não onerar os cofres de seu clube com as despesas das famigeradas “estruturas provisórias” para a Copa do Mundo: o presidente Giovanni Luiggi. Este homem tinha tudo para fazer, como alguns pequenos, eloquente discurso, trazendo para si todas as luzes dos holofotes que iluminaram o estádio nesta noite, quase madrugada. Ao contrário! Declarou à singela e curta oração: “Declaro reinaugurado o Gigante da Beira Rio!”. Como já disse, sou gremista.
Acima de tudo, sou um ser dotado de razão. Não quebro cadeiras, não provoco arruaças na casa do adversário, quanto mais no estádio do meu clube. E por racional, deixei-me transbordar pela emoção de rever aqueles antigos atletas que, tantas e tantas vezes foram o suplício dos meus domingos. Homens que foram justa e dignamente homenageados no aconchegante afeto e gratidão de seus torcedores. Isso, no entanto, não teria acontecido não houvesse nos bastidores da grande festa do Sport Clube Internacional a mente de um presidente despojados dos cânceres da megalomania, da soberba e do egoísmo e delegasse a formatação das comemorações e seu consequente brilhantismo com milhares de coadjuvantes.
Ainda assim, continuo gremista.
Por isso, senhor Paulo Odone Chaves de Araújo Ribeiro, aconselho-o a voltar ao exercício das funções da advocacia, para as quais, presumo, deva ter estudado, já que o Grêmio Foot ball Porto Alegrense e seus esquecidos protagonistas não merecem a soberba de quem ainda tem muito para crescer.