Que história iremos contar?
Pouco depois, soa o sino de 27 toneladas – no sino, uma inscrição de Shakespeare em “A Tempestade” – sinalizando aos que assistirão pelo mundo afora, um histórico e emocionante espetáculo de abertura dos Jogos Olímpicos da Era Moderna.
Uma cerimônia projetada para 3h30min de duração correria o risco de se tornar tediosa. A genialidade do premiado diretor de cinema Danny Boyle, exitosamente, ficou muito distante disso. Utilizando-se de tecnologia de última geração e com o seu talento, Boyle conta a história do Reino Unido, a partir do Século XVIII, seus grandes capitalistas, a oprimida classe operária. Na sequência, chaminés se erguem do chão e mostram a revolução industrial, que pela Inglaterra começou a mudar o mundo em meados daquele Século. No salto seguinte, a mais forte marca do espetáculo criado pelo cineasta: a cultura pop: o cinema: Charles Chaplin, Mary Poppins, o bruxinho Harry Potter; a música: numa sucessão de imagens surgem Rolling Stones, Beatles, The Who, Sex Pistols, Elton John, Punks e New Have.
O ator Daniel Craig, o último James Bond, dirige-se ao Palácio e convida a Rainha Elizabeth II para assistir à cerimônia de abertura dos Jogos. Ambos se deslocam a bordo de um helicóptero da Marinha Real. É surpreendente quando, ao vivo, sobrevoando o Estádio, a “Rainha” despenca da aeronave. Era um paraquedista, paramentado com as vestes semelhantes à da Soberana que, imediatamente, surgiria no Camarote Real para receber a saudação dos presentes.
Hilariante a performance de Mr. Bean, interagindo com a Orquestra Sinfônica de Londres. Mr. Bean arranca gargalhadas da plateia e lembra a todos o tempo em que vivemos. Ao mesmo tempo em que “toca” a pianola na orquestra e sonha com o filme “Carruagens de Fogo”, Mr. Bean navega no seu smartphone.
Outro, senão o mais pop dos Sires da Coroa Britânica, Paul McCartney, poderia ser o apoteótico final com a antológica Hei, Jude.
A pergunta que não quer calar: – em 2016, que história teremos para contar ao mundo?
Diferentemente do sonho de Mr. Bean, prenuncio o pesadelo de termos um cineasta para idealizar a cerimônia de abertura das Olimpíadas do Rio de Janeiro: José Mojica Marins, o Zé do Caixão. Ao som de rajadas de escopetas e metralhadoras, de um funk fuleiro como música(?) incidental, surgirão, do gramado do Maracanã, as torres e as conchas do Parlamento Nacional. Dali, sairá, trajando apenas roupas íntimas, um bando mascarado de homens e mulheres, portando, escondidas nas precárias indumentárias, milhares de notas de dólares, ao grito de ordem: Estamos pouco nos lixando pra opinião pública!
No alto, os olhos do Cristo Redentor vertiam rubras lágrimas de sangue.