Referendo foi erro político de Chávez, afirma professor
O presidente da Venezuela sofreu sua primeira derrota política por falta de avaliação. A opinião é do professor de História Contemporânea da Universidade Federal Fluminense (UFF), Daniel Aarão Reis Filho.
— Foi um erro político e de avaliação. O Chávez poderia empreender as reformas que ele pensa serem necessárias sem esse referendo, porque ele tem ampla maioria no Congresso, tem respaldo na mais alta instância do Judiciário e tem popularidade pessoal — afirmou o professor em entrevista ao programa Notícias da Manhã, da Rádio Nacional.
Na madrugada de hoje, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela anunciou a rejeição da população venezuelana à reforma constitucional do presidente Hugo Chávez por 50,70% votos válidos. O Sim teve 49,29% de votos e deixaram cerca de 44% da população venezuelana não foram às urnas.
Para Reis Filho, o maior erro de Chávez foi propor reformas de naturezas diferentes em pouco tempo de discussão.
— Ele poderia inclusive submeter a voto as reformas sociais, que são muito importantes e constavam no pacote de propostas reformistas, sobretudo a diminuição da jornada de trabalho para seis horas. Mas ele embrulhou no pacote ao mesmo tempo a questão do socialismo, que é maior e não pode ser debatida por uma sociedade em um mês. — disse o professor. A proposta de reforma constitucional de Chávez previa a alteração de 69 dos 350 artigos da Constituição da Venezuela de 1999. Entre as mudanças estavam a ampliação de seis para sete anos do mandato presidencial, a reeleição ilimitada e a redução da maioridade eleitoral de 18 para 16 anos.
Para o professor, a oposição teve maioria na votação do referendo porque criticou as propostas e não o presidente venezuelano.
— As oposições tiveram o cuidado de centrar a sua campanha não na figura do Chávez, que continua muito popular no país, mas na proposta de reforma. Embora na reta final, Chávez, percebendo isso, fez todo esforço para caracterizar o referendo como um referendo de aprovação ou reprovação à sua pessoa — firmou.
Reis Filho não acredita que a derrota prejudique a popularidade do presidente venezuelano:
— Não é um resultado catastrófico para ele, a meu ver, sobretudo se ele souber assimilar o resultado democraticamente.
O professor afirmou também que, mesmo se Chávez conseguisse aprovar a reforma constitucional, teria gerado descontentamento da sociedade venezuelana.
— O Chávez, evidentemente, com essa proposta não conseguiu unificar as maiorias que votavam nele nas eleições passadas. Mesmo que tivesse conseguido uma vitória com uma pequena diferença, ele teria certamente fraturado a sociedade e provocado um nível de descontentamento que inviabiliza qualquer política de reforma democrática — avaliou.