Colunistas

Revisitando o Dicionário

Quando eu frequentava o 2º ano do Ensino Primário – claro, leitor, leitora, isso foi no Século XX. Está bem, confesso: na segunda metade dos anos 50, minha professora, que se chamava Nair Kriegger e não “profe”, muito menos “tia”, ensinou-nos os sinônimos e os antônimos de uma infinidade de vocábulos. Já D. Carmen Cavalcanti, no 3º ano (por que será que jamais esquecemos as nossas professorinhas do Grupo Escolar? Senhorinha, Nair, Carmen, Lucy e Branca), mostrou-nos o caminho da biblioteca, porém, com um alerta: – Meninos, nem todas as palavras que lerem nos livros saberão de imediato o seu significado. Para isso, não precisamos de mágica: basta termos um sincero e prestativo amigo ao nosso lado: o Pequeno Dicionário da Língua Portuguesa.

E assim fora! A partir daquele singelo compêndio promoveríamos (ou deveríamos promover) o tão citado, invocado, lembrado, porém, na prática, extremamente ignorado Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, o “Aurelião”, como nosso “Pronto Socorro Vocabular”.

O incentivo à leitura, à contação de histórias nas primeiras séries do Ensino Fundamental por muitos anos estiveram esquecidos, relegados como velhas estantes que, invadidas pelos cupins, jogavam-se nos porões dos antigos casarões que então abrigavam os Grupos Escolares.

Sim, meu colégio tinha um lúgubre e misterioso porão. Diz a lenda que nele habitava o fantasma de um aluno que ao tentar incendiar a escola e não conseguira escapar às labaredas. Os mais espertos, sabíamos que não passavam de crendices. Naqueles tempos, alunos não só não agrediam fisicamente a mestra ou a chamavam de “tia”, como não ateavam fogo às escolas.

Hoje, as heroicas e dedicadas professorinhas das escolas públicas – em que pese à desfaçatez dos governantes municipais e estadual, ante o aviltante salário a elas pago – redescobrem, elas próprias, aquele universo mágico – a biblioteca escolar, a contação de história, o incentivo à leitura e incursões às Feiras do Livro – juntamente com os alunos.

O resultado daquele ostracismo do ensino da linguagem com seus sinônimos, antônimos – para dizer o mínimo – sem considerarmos a desmotivação ao gosto da leitura, ainda se reflete flagrantemente nos comentários nas redes sociais quando da postagem de “Selfies” (autorretrato, foto tirada e compartilhada na internet) das amigas: – linda!

Basta apenas dar uma olhadinha no “Aurelião”, no Dicionário Eletrônico que a própria Internet dispõe, no “Amansa Burro”, como jocosamente alguns dizem, e atestarmos a infinidade de sinônimos para o tão surrado e batido adjetivo “linda”.

Atraente, bela, bonita, deslumbrante, elegante, charmosa, encantadora, sedutora, fascinante, esbelta, formosa, graciosa, maravilhosa, perfeita, primorosa, angelical.

Podem não ter a ressonância imediatista do “linda”. Ao menos defenestram (Lançar, violentamente, algo ou alguém pela janela. Alijar) o chatérrimo bate-estacas “Linda”… Linda!… Linda!… Linda!… Linda!… Linda…

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