Saindo do “armário”
Essa é a pergunta que sempre aparecia no final de um quadro humorístico do pai que se sente culpado de ter um filho homossexual. Com a maior tolerância da sociedade, sobretudo da mídia, aos homossexuais, muitas famílias ainda se escandalizam e pais demonstram ansiedade diante da possibilidade de seu filho “homem” possa um dia revelar essa tendência psicossexual.
O tema, já por demais polêmico, inflacionou e “inflamou” as redes sociais após a bombástica revelação da cantora baiana, Daniela Mercury – dois casamentos e mãe de cinco filhos – em apresentar ao público sua nova namorada.
Não há muito tempo, o ator José de Abreu afirmou, com todas as letras “Sou bissexual!”. Não é segredo para ninguém que a classe artística – galãs e “mocinhas” – é um “criadouro” de homoafetivos (masculinos e femininos)
A razão para existirem gays ou lésbicas continua a intrigar os cientistas. A suspeita, agora, está sobre a epigenética. É o que garantem pesquisadores do Instituto Nacional de Síntese Matemática e Biológica da Universidade da Califórnia, que desenvolveram a tese. A revolução genética da última década, e o fato de que é possível encontrar vários casos de homossexuais (gays e lésbicas) em uma mesma família, levou cientistas a acreditarem que havia uma causa genética. Estudos, porém, feitos com gêmeos que compartilham o DNA e também têm geralmente a mesma educação foram inconclusivos. De acordo com tal explicação, se um irmão era gay, seu irmão devia ser geneticamente idêntico, mas isso não aconteceu.
Uma outra teoria fala da exposição a certos hormônios durante a gravidez. Segunda ela, os fetos (especificamente, o cérebro) do sexo masculino (cromossomos XY sexuais) expostos a menos testosterona eram gays, e que os do feminino (XX) expostos a mais testosterona tendiam a resultar em lésbicas.
Durante uma reprodução, pai e mãe passam para filho todas as instruções (olho, pé, cérebro, pênis, vagina). É a ativação correta de cada um desses fatores que determina a um óvulo fertilizado que gere um ser humano (que irá produz sangue, dedos, coração, unha). Os pesquisadores descobriram, porém, que um grupo dessas instruções, que são aqueles que regulam a resposta à testosterona, pode ser herdado.
Desta maneira, um feto masculino que herda a instrução de ser sensível à queda de testosterona pode ser tornar gay e, por outro lado, se um feto feminino herda a instrução a ser muito sensível ao excesso de testosterona, pode gerar uma lésbica. A resposta herdada, chamada pelos pesquisadores de epimarca, é o “mecanismo considerado mais plausível para explicar a homossexualidade humana”.
Contrário a essa tendência biogeneticista das causas do homossexualismo, estão os psicólogos e psicanalistas. Não se nega que a base genética de nossas características humanas ou as tendências que temos de desenvolver algumas doenças, por exemplo, tem base genética, mas daí incluir o homossexualismo como quase doença geneticamente determinada é, no mínimo, simplismo científico.
Daryl Bem, psicólogo da Universidade de Cornell (EUA), pesquisa a formação intrafamiliar do homossexual. Quais brincadeiras uma pessoa preferia quando criança, seus gostos por roupas, joias, tipo de relação com a mãe, com o pai, etc. e concluiu que os incidentes do desenvolvimento, o tipo de investimento familiar e as tendências da própria pessoa, todos esses fatores pesam muito mais na determinação do homossexualismo do que os fatores genéticos.
A nova geração de psicólogos americanos tende a valorizar as vivências “fora” da família, isto é, as relações interpessoais com vizinhos, colegas da escola e da rua, como fatores que mais pesam no desenvolvimento da personalidade. Nesse sentido, meninos que se comportam segundo o estereótipo de menino (gostam de brincadeiras mais agressivas, se identificam com heróis, gostam de aventuras, ação, são menos obedientes e se encrencam na escola por má conduta mais que as meninas etc.) se diferenciam delas que costumam ter um jeito mais suave e introspectivo. O “normal” nessa cultura é esperar que os meninos sintam-se atraídos pelas mulheres, mas não em ser como elas. Porém, sobram perguntas sem respostas satisfatórias. Como entender as pessoas que desde crianças sentem-se atraídas pelo estilo das meninas? Será que, só por essa tendência, fatalmente desenvolverão homossexualismo ou será apenas uma fase passageira? E as meninas que admiram mais as meninas, que são fascinadas por pessoas famosas, será que estão sendo atraídas a se tornarem homossexuais ou trata-se somente de simples admiração?
Freud lançou um pouco de luz nas causas da homossexualidade. Para ele, três fatores parecem determinar o homossexualismo: a forte ligação com a mãe, a fixação na fase narcísica e o complexo de castração. No primeiro, o homossexualismo teria início devido a uma forte e incomum fixação com a mãe o que impediria essa pessoa de se ligar a outra mulher. O segundo fator, o narcisismo, faz com que a pessoa tenha menos trabalho em se ligar ao seu igual que em outro sexo. A estagnação na fase narcísica faria com que “o amor fosse para eles sempre condicionado por um órgão genital semelhante ao deles” (Ferenczi). O terceiro fator aponta problemas relativos à travessia da castração, isto é, sofrimentos relativos às perdas e à ideia de morte que deixariam a pessoa acomodada ou acovardada na sua psicossexualidade.
Em verdade, não podemos escapar do fato de que somos todos ambissexuais. Esse termo é ainda útil para exprimir que a criança, num certo estádio do seu desenvolvimento normal, manifesta sentimentos anfieróticos, quer dizer, ela pode transferir sua libido ao mesmo tempo para o homem (o pai) e para a mulher (a mãe).
De qualquer forma, ainda não foram respondidas a contento as questões: por que algumas pessoas têm preferências ou tendências homossexuais? Será que o homossexualismo não passa de uma espécie de inveja do outro sexo; que deseja ter o jeito do outro sexo? Ou, seu desejo primeiro é não ter desejo, nem ser “macho”, nem “fêmea”, mas de ser o terceiro sexo? Qual o limite da determinação genética quanto a homossexualidade e o homossexualismo? E a influencia desta com os fatores ambientais e a significação atribuída ao próprio sujeito desejante?
Em matéria de comportamento, o resultado do impacto da experiência pessoal sobre os eventos genéticos, embora seja mais complexo e imprevisível, é regido por interações semelhantes. No caso da sexualidade, para voltar ao tema, uma mulher com desejo sexual por outras pode muito bem se casar e até ser fiel a um homem, mas jamais deixará de se interessar por mulheres. Quantos homens casados vivem experiências homossexuais fora do casamento? Teoricamente, cada um de nós tem discernimento para escolher o comportamento pessoal mais adequado socialmente, mas não há quem consiga esconder de si próprio suas preferências sexuais.
No momento, os estudiosos parecem estar de acordo em somente um ponto: não há uma única causa quanto ao que determina o homossexualismo. A sexualidade humana não é questão de opção individual, como muitos gostariam que fosse, ela simplesmente se impõe a cada um de nós.
Simplesmente, é!