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Samhain: a origem do Halloween ou Dia das Bruxas

O Halloween, ou o Dia das Bruxas, tem sua origem no festival celta da colheita, que celebrava o final do período fértil no hemisfério norte, o Samhain.

Assim como as celebrações da Páscoa e Natal, o Halloween é um somatório de tradições de diferentes culturas, religiões e países. Os estudos sobre suas origens são uma mistura de misticismo religioso e tradição histórica, sem que haja consenso entre historiadores e neo-pagãos. Folcloristas modernos acreditam, por exemplo, que as origens estariam na festa romana à Pomona, a deusa dos frutos e sementes, ou no festival dos mortos chamado “Parentalia”.

Do irlandês, ou do escocês gaélico “Samhuinn”, o significado do termo Samhain é “fim do verão”. O verão que para os celtas era considerado o período de luz e fertilidade, no qual se produzia o alimento para o restante do ano. Durante o festival, realizado entre o por do Sol de 31 de outubro e por do Sol 1º de novembro, os celtas celebravam a preparação para o inverno (a “metade mais escura” do ano; escuro e frio) que se aproximava. Por isso o uso do fogo (luz e calor) nos rituais. Estando no meio do caminho entre o equinócio de outono e o solstício de inverno (no hemisfério norte), Samhain compõe junto com Imbolc, Beltane e Lughnasadh os quatro festivais sazonais da cultura celta observada ainda especialmente na Escócia e Irlanda.

Apesar de o neopaganismo considerar e celebrar o Samhain como o ano novo pagão e até mesmo considerar a data como uma festividade de homenagem ao deus pagão da morte, este não era o significado original para os antigos celtas.

Com o encerramento de um ciclo (o verão), anunciado pelo cair das folhas das árvores, a colheita era recolhida, o gado e as ovelhas eram trazidos dos campos. A terra começava lentamente a “morrer”.

A fertilidade da terra era algo muito importante, não apenas para os celtas, por isso o fato de alguns historiadores também associarem a origem do Halloween às festividades romanas em homenagem a deusa Pomona.

Como era um período de transição, os celtas acreditavam que durante o festival também a fronteira entre o mundo material e o mundo espiritual seria aberta, motivo pelo qual os espíritos dos antepassados ficavam mais propensos a visitar a Terra e os parentes neste dia. Desta forma, o fogo era preparado para recebê-los, bem como locais de oferendas de comida e bebida.

Mesmo após a chegada dos missionários católicos aos territórios celtas (o que corresponde a uma boa parte da Europa Ocidental) e a tentativa forçada de conversão, as antigas tribos, principalmente entre os habitantes das Ilhas Britânicas, último refúgio dos celtas expulsos do continente europeu, continuaram a acreditar em seus antigos deuses e tradições, guardando as datas dos solstícios e equinócios, alguns ritos e também símbolos sagrados.

Em 835 a Igreja Católica estabeleceu o dia 1º de novembro como o “Dia de Todos os Santos”, uma homenagem aos santos e mártires cristãos, e mais tarde, no século 11, o dia 2 de novembro como o “Dia de Finados”, em homenagens aos mortos. Historiadores acreditam que em alguns lugares na  Alemanha e Ilhas Britânicas o Dia de Todos os Santos já era celebrado pela a igreja desde o final do século 8 estando associado ao festival celta.

A data do Dia de Todos os Santos, que antes era celebrado em maio, foi alterada para cair na mesma época em que os pagãos celebravam o Samhain, o que facilitava a conversão e assimilação das populações celtas ao cristianismo. A ideia é que elas continuassem a celebrar a data, mas sob uma capa cristã.

Assim, a noite de Samhain, que caia em 31 de outubro e marcava o fim do verão (no dia 1º de novembro iniciava o inverno), foi chamada de véspera do Dia de Todos os Santos, em inglês “All Hallow's Eve”, dai a expressão em forma contraída “Halloween”.

No antigo Samhain, nabos ou cabeças eram esculpidos e ganhavam velas. Mais tarde, quando esse dia passou a ser celebrado na América do Norte, as abóboras passaram a ser utilizadas.

Não há informações sobre quais seriam as origens dessa prática, é provável que as esculturas e as velas tivessem a função de assustar ou orientar os espíritos que vagavam pela Terra durante os banquetes oferecidos no festival da colheita celta.

Uma versão diz que elas eram usadas como o símbolo do soberano galês Bran, o Abençoado, que durante uma batalha na Irlanda pediu que sua cabeça cortada fosse enterrada na direção da  França, para proteger os territórios célticos dos invasores.

O fato é que, assim como o Natal, sua versão atual deve-se principalmente a cultura norte-americana, que popularizou o Halloween, principalmente entre as crianças com o famoso “Trick-or-treat” (gostosuras ou travessuras), já no século 19.

Aqui também, historiadores associam a tradição às oferendas destinadas aos mortos e aos Sídhe (ou Aos sí), um povo sobrenatural comparado às fadas e elfos, que necessitavam ser acalmados com comidas e bebidas durante o Samhain para que tanto pessoas quanto criações sobrevivessem ao inverno rigoroso.

Nos países de língua portuguesa a data se popularizou na Idade Média como o “Dia das Bruxas”, uma clara alusão depreciativa cristã aos antigos ritos pagãos celtas. O que se tornou bem útil para a propaganda católica depois da Reforma Protestante, quando a data passou a ser lembrada e comemorada pelos luteranos e outras denominações evangélicas como o “Dia da Reforma”.

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