Todos juntos na mesma planície – Dom Jaime Pedro Kohl

domHá algumas semanas falávamos da ‘Cidade Planetária’. Hoje, continuamos essa reflexão sobre interculturalidade do teólogo Memore, dando mais um passo.

         “Os meios de comunicação e transporte permitiram aos povos e as culturas do planeta encontrar-se numa grande ‘praça comum’. Esta nova realidade foi muito bem relatada pelo teólogo John Hick. Uma metáfora sugestiva permite ao leitor tomar consciência da enorme complexidade que cresce na rede das relações, tecida no cotidiano, entre os povos e as culturas.

         Diz Hick que tudo ocorreu como se, desde sempre, cada povo tivesse caminhado ao longo de um vale ladeado de montanhas separadas, louvando e cantando ao seu Deus, vivendo uma história de amor (e de pecado) com seu Deus.

         Finalmente o vale desemboca numa planície. E, ali, cada povo vê chegar os outros povos, que desembocam, cada um pelo seu vale, na grande ‘praça comum’, e descobrem que viveram com seu próprio Deus uma história muito parecida, com suas próprias palavras, cânticos e imagens.

         O esperado era que estes povos celebrassem, jubilosos, o encontro; estabelecem um diálogo fraterno e tratassem de se juntar e unir e aproveitar as belas experiências de amor e comunhão vividas com seu Deus… Mas não foi assim.

Eles experimentaram inicialmente uma dificuldade de relação. Suas instituições religiosas se sentiram desafiadas pela existência de outras instituições semelhantes e se negaram ao diálogo. Seus símbolos religiosos pareceram a primeira vista incompatíveis, e o povo simples talvez não teve tempo de reagir, educado à obediência cega aos seus dirigentes.

O encontro se transformou em conflito e as religiões, em vez de darem motivos para a convivência pacífica do mundo, jogam lenha na fogueira das diferenças e dos confrontos que o mundo vive.

         O fenômeno que despertou no planeta mostra que a diversidade das línguas, religião, hábitos, costumes e culturas tem um grande potencial de transformação. Deveras, favorece a desconstrução e reconstrução desta mesma sociedade planetária que, muitas vezes, em lugar de se abrir ao outro numa proximidade samaritana, se fecha atrás de ideologias racistas, sexistas, xenofóbicas ou de muros intransponíveis e arame farpado.

         Entretanto, ‘é preciso revigorar a consciência de que somos uma única família humana. Não há fronteiras nem barreiras políticas ou sociais que permitam isolar-nos e, por isso mesmo, também não há espaço para a globalização da indiferença’ (LS 52).”

         Abramos nossos olhos e nosso coração para acolher e amar quem quer que seja!

Dom Jaime Pedro Kohl – Bispo de Osório

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