Transgênicos levam mais fome a população do campo, avalia ativista
Investir na reforma agrária, na distribuição de terras e no fortalecimento da agricultura familiar como o modelo produtivo que gera mais emprego, é ambientalmente mais sustentável e distribui mais renda são as três propostas alternativas ao plantio de transgênicos no Brasil defendidas hoje (11) pelo representante da campanha Acabar com o Terminator Julian Pérez.
“A saída no Brasil é mais evidente do que em qualquer outro país, 70% do que vai para o prato dos brasileiros é produzido pela agricultura familiar. É um sistema que produz mais alimentos para os brasileiros, e não só commodities [bens primários com cotação internacional].”
Ao participar do segundo dia da Conferência Especial pela Soberania Alimentar, pelos Direitos e pela Vida, Pérez avaliou que o terminator – tecnologia que altera a semente com a finalidade de gerar plantas estéreis – representa um risco potencial, caso a transgenia seja propagada no mundo.
“O agricultor compra a semente, planta e a semente que ele colhe não vai nascer de novo. Um ano após o outro, o agricultor vai ter que estar sempre comprando semente da indústria. O agricultor perde a sua capacidade de produzir e conservar a sua própria semente.”
Ele lembra que o terminator foi desenvolvido, inicialmente, nos Estados Unidos, mas que vários países já realizam pesquisas que utilizam a tecnologia para “aprofundar o monopólio das empresas sobre a semente”.
Pérez acredita que, de maneira geral, os transgênicos reforçam um modelo antigo de agricultura baseado na expansão da monocultura, na concentração das terras e dos meios de produção e, conseqüentemente, no aumento do preço dos produtos agrícolas.
“Apesar desse modelo ser propagado como um modelo que quer combater a fome, o que a gente observa é que a fome tem aumentado no mundo, mesmo tendo aumentado a produção desse tipo de alimento. Os transgênicos foram um revigoramento desse modelo, que vai levar mais fome e mais exclusão à população do campo.”
A proposta de interromper a propagação da transgenia deve ser discutida até domingo (13), último dia do encontro, e posteriormente levada à 30ª Conferência Regional da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), que será realizada entre os dias 14 e 18 deste mês, em Brasília.
“Como no Brasil a relação de forças é desigual, a indústria tem um peso muito maior e é muito mais ouvida do que os movimentos sociais A gente faz um esforço de que pelo menos essa tecnologia terminator, que é um aprofundamento terrível do controle das empresas sobre a semente e da dependências dos agricultores, não seja implementada no país.”
Segundo Julian Pérez, a comercialização do terminator é proibida no Brasil pela Lei de Biossegurança, mas um projeto de lei apresentado pela senadora Kátia Abreu (DEM-TO) prevê a liberação da tecnologia. Dados da campanha Acabar com o Terminator apontam que quatro empresas em todo o mundo concentram 57% do mercado de sementes e que, entre 1994 e 2006, o preço da semente subiu 250%.