“Um soco no fígado” - Litoralmania ®
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“Um soco no fígado”

Foi assim – um soco no fígado – que “Il capo de tutti capi”, Lula da Silva definiu o elo entre a ex-senadora Marina Silva e o Governador de Pernambuco, Eduardo Campos do PSB.

O “Plano C” da ex- senadora, se por um lado foi um golpe para o governo, especialmente para o Lulopetismo, por outro abriu novos horizontes ao eleitorado, já enfastiado pela dicotomia PT/PSDB.

A composição exata da chapa que concorrerá às próximas eleições presidenciais pelo PSB ainda é controversa, a meu ver dependerá muito do desempenho dos dois candidatos nas pesquisas eleitorais. Mas uma coisa é certa: eles terão a difícil tarefa de convencer os eleitores que não se trata apenas de uma aliança eleitoreira, e sim uma composição que pretende governar o país com propostas exequíveis e inovadoras.

 Logo nas primeiras entrevistas após sua filiação no PSB, Marina declarou que sua “briga” no momento não é chegar à presidência da República, mas de combater a hegemonia petista e sua tentativa de instalar o chavismo no Brasil (entrevista transmitida ao vivo pela Globonews).

Foi bom ouvir, após dez anos de uma mirrada e pífia oposição, uma candidata dizer isso em alto e bom tom, sobretudo vindo de uma candidata que já vivera nas entranhas do governo petista e conhece bem o modus operandi  nada ortodoxo da horda instalada no Palácio do Planalto.

Marina também teria dito que existem mais de dois mil militantes petistas espalhados pela rede com a incumbência de desmoralizá-la. A ex-Senadora  se referiu à mesma máquina de difamação dolosa a qual aludi no meu último artigo para o Litoralmania, e pelo qual fui grosseiramente criticado por um abespinhado leitor, para quem  faltou-lhe a quietude para interpretar corretamente o texto e lhaneza ao escrever sua opinião.

Recentemente o programa CQC da TV Bandeirantes denunciou este mesmo esquema envolvendo o Governador do DF, Agnelo Queiroz (PT), e quadrilhas virtuais pagas com dinheiro público para difamar e caluniar qualquer um que se alce contra o governo.

Voltando à relevância, a pergunta é: a sinergia entre os novéis aliados será bem- sucedida? Convenhamos, os óbices são grandes; o maior deles será as coligações a serem feitas com o fim de garantir alguns preciosos segundos a mais de propaganda eleitoral gratuita. Marina, em 2010, angariou 20 milhões de votos contando com apenas alguns segundos de TV. Se tudo continuar como está, o PSB terá apenas pouco mais de 1 minuto. A meta de Campos é chegar aos 3 minutos de propaganda. Para isso o governador deverá atrair para sua aliança oitenta Deputados Federais. Tarefa para lá de difícil!

Vejamos: o PSD do ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, que mantinha uma relação amigável com Eduardo Campos, não abrirá mão de apoiar Dilma. O novo partido Solidariedade, do Paulinho da Força deve mesmo fechar com Aécio Neves do PSDB. O PROS, seu nome já diz tudo, serve de abrigo para quem quiser sair de seu partido para apoiar o governo.

 Marina e Eduardo Campos terão, ainda, de enfrentar a artilharia pesada do PT, de onde vem a afirmativa dos mais delirantes de seus cauditários de que farão “o diabo” para vencerem as eleições. Quando eles dizem isso, podem ter certeza, virá muita baixaria e calúnias por aí. Os “Aloprados” devem estar atarefados.

Outra dificuldade gigantesca será lidar com os 50 milhões de eleitores de cabresto, que não sabem diferenciar o Título de Eleitor do Cartão Bolsa Família.
É óbvio que sociedade que produz deve, sim, auxiliar os menos afortunados pelo período em que os mesmos estiverem passando por necessidades, porém ao permitir que famílias inteiras sejam eternamente subsidiadas por um sistema que desestimula sua força de trabalho, é favorecer um circulo vicioso de dependência mútua, um pela mesada e o outro pela fidelidade nas urnas.

Outro fator difícil de definir é: aonde, dentro do espectro ideológico, se situa a Rede Sustentabilidade de Marina Silva? Em suas finas malhas já foram capturados desde neoliberais até socialistas. O fio que permeia e une a todos, parece ser mesmo a ecologia.

Fato é que o sistema político brasileiro, marcado pelas coalizões antes e depois das eleições, praticamente debela a identidade ideológica dos partidos. Hoje não há uma esquerda e uma direita relevante, mas sim um promíscuo “centrão” onde cada um cuida de seus próprios interesses e negociatas.
Não há discurso ideológico (dentro do campo democrático, claro!) com corpo suficiente para despertar a atenção da população e oferecer-lhe alternativas viáveis a esta mesmice que aí se apresenta.

Marina e Eduardo Campos não são exatamente novéis políticos, ambos são “cahorros criados” e não exibem, como muitos querem fazer crer, a candura e puerilidade típica dos inocentes. Todavia, podem sim, abrir uma fresta pela qual o Brasil pode fugir da hegemonia autoritária petista e dar continuidade à alternância de poder, o que seria fator de mérito no processo, ainda em formação, da democratização brasileira.

Se a oposição chegar de fato a ganhar as eleições, pelo menos a governabilidade estará garantida, tanto para o PSB de Campos/Marina, quanto para o PSDB de Aécio Neves. Ambos terão o fiel, embora nem um pouco barato, PMDB, sempre pronto a fazer parte de qualquer base governista.

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