Colunistas

Uma criança no carro

Pois, de Santa Rosa nos vem a noticia que um pai esqueceu sua filha de 11 meses, dentro do carro e foi trabalhar em uma delegacia de Policia onde ocupava o cargo de Delegado. A criança acabou morrendo, segundo os médicos, de desidratação.

O esquecimento de crianças pequenas, dentro de carros, acontece com mais frequência do que se imagina. É um fato que resulta, sempre, em uma tragédia. Lamenta-se uma vida que, no nascedouro se extingue e lamenta-se uma vida que continua, daqui para a frente, sob um drama de tamanho incomensurável. Sim, pois quem poderá aliviar as dores deste pai ante ao fato de ter produzido, por negligencia, a morte de sua filha e quem poderá mensurar o seu nível de culpa quando olhar para a mãe de sua filha e, silenciosamente, admitir que ele produziu uma morte que dilacerou sua família.

Quem poderá aliviar sua dores, quem poderá diminuir sua culpa, quem terá a palavra correta e na medida para levar-lhe o consolo de que, agora, ele tanto precisa? A que tormentos solitários este pobre homem se acometerá, que condenações pessoais este pobre homem se infligirá? Que angústias intermináveis abrasarão seu coração e sua mente, no decorrer  da sua vida futura? Ninguém pode avaliar suas dores e ninguém poderá lhe levar o remédio para curá-las.

Resta-lhe, agora, na condição de pai e de homem, que se sobrepõe a tragédia, reconstruir sua história e a história de seu relacionamento familiar e sobre os escombros da dor, da culpa e da angustia que esta tragédia lhe trouxe, tentar recomeçar a costurar sua vida e a vida de seus afetos.

Talvez consiga, talvez não. Vamos acreditar que consiga.

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