Uma ferramenta ainda mal compreendida - Litoralmania ®
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Uma ferramenta ainda mal compreendida

Ainda não estamos no 14 de julho, porém a Queda da Bastilha aconteceu: capitulei ao canto da sereia do Facebook.

De fato, é uma ferramenta de ágil comunicação com os parentes, amigos atuais, novos e, sobretudo, com aqueles que estavam perdidos no tempo e no espaço. Mas observadas e respeitadas as restrições.

Em crônica antiga – quando não era “filiado” ao FB – critiquei a postura de alguns usuários que abriam o “querido diário, hoje me levantei com dor de barriga, hoje eu estou aqui neste hotel da fronteira; vim comprar muambas, made in Paraguay”.

Mário Corso, com muito oportunismo, escreveu – e eu comungo com este pensamento – que o seu apreço com as redes sociais é por acreditar que elas são um antídoto para o isolamento urbano. É uma novidade que imita o passado, uma nova versão, por vezes mais rica, por vezes mais pobre, da antiga comunidade. Vivemos para o olhar dos outros, essa é a realidade simples, evidente. Quem pensa o contrário vai na conversa da literatura de autoajuda, que idolatra a autossuficiência e acredita que é possível ser feliz sozinho. É uma ilusão tola, nascemos para vitrine. O viciado em rede social está em busca de um olhar, de uma aprovação, precisa disso para existir. Ou vamos acreditar que a carência, o desespero amoroso, e a busca pelo reconhecimento são novidades da internet? As redes são usadas basicamente para frivolidades, é certo, mas isso somos nós. Se a vida miúda de uma cidadezinha fosse transcrita, não seria diferente.

Pelo fato de ser iniciante na lista de centenas de amigos no Face não significa que eu mude de opinião. Não! Comento e compartilho somente postagens que entendo interessantes e que venham a somar para o meu conhecimento e condição de cidadão. De meu, publico tão somente textos contendo um conto, uma crônica. Já basta que a balconista da loja ou da farmácia conheça meu CPF, RG, telefone fixo, móvel, e-mail, endereço e CEP. Minha privacidade está no mais alto totem de minha idolatria.

Cissa – a mais versátil comunicadora de rádio e TV do Litoral Norte – postou, na segunda-feira, 17, com o fino e sutil humor que lhe é próprio, um delicioso comentário que resume com perfeição o que têm sido as postagens no FB. Diz ela:

“Este Face ta que ta; Euzinha me mando rosa, euzinha me cutuco, euzinha quero conversar comigo e euzinha visito meu perfil!!!??? Hahahahhhahaha. Acho que euzinha me AMO……………”.

Contribuo para o anedotário bolado pela Cissa: –- “Euzinha bebendo o chá das cinco com as velhinhas (do asilo???)”. “Euzinha cuidando do meu pet”,. “Euzinha descendo as escadas do hotel em Porto de Galinhas para tomar o café”, todos ilustrados com fotos, evidente!

Há algo pior do que aqueles que consomem mais de doze horas de seu dia obcecamente sentados em frente ao monitor e compartilham (ou te entopem???) com trezentos e trinta e sete coraçõezinnhos, sabonetinhos, ursinhos, outros tantos de autoajuda, de pai-de-santo, lanchonetes, telepizza, afiador de facas?

Só me faltam enviar um folder de cemitério que venda sepultura em setenta prestações e juro zero.

Aí, sim, saio de vez das redes sociais.

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