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Vida alheia

O mundo fica muito envolvido com as situações alheias, prestando atenção em como está o desempenho dos outros e cuidando de “fundamentos” que não lhe são pertinentes. Nessa semana, a maioria das bolsas mundiais mostrou queda, seguindo os mercados americanos, que foram pressionados por indicadores ruins da economia. Nós, brasileiros, fomos mais espertos, e cuidamos do nosso próprio cenário, que é mais próspero, resultando em alta na semana para o Ibovespa.

No âmbito americano, as preocupações são de que a recuperação econômica do país perca o vigor nesses próximos meses. Os temores de que a principal economia do mundo fique mais fraca são o suficiente para despertar a aversão ao risco nos investidores. Uma bateria de indicadores ruins, motivou as quedas de 1,0% nas bolsas do país.

Na China, o risco inflacionário desperta temores de que o governo vá adotar medidas contracionistas, que acabariam por limitar o crescimento do país. O mercado especula mais em torno disso do que deveria, uma vez que ainda que mais modesto, o crescimento chinês deve ficar em torno de, surpreendentes 9,5% em 2010. Ainda assim, seguindo os indicadores ruins nos Estados Unidos, as bolsas da região encerraram a semana em queda.

Na Europa, a possibilidade de calote por parte de algum dos países mantém os investidores em constante cautela, ainda que o Banco Central da região esteja lidando  bem com a situação – disponibilizou um montante surreal de recursos para as economias em necessidade, que adicionalmente, estão fazendo o seu dever de casa, cumprindo os planos de austeridade e controle de gastos, em busca de uma melhora da saúde das contas públicas. Ainda que a maior economia da Zona do Euro, a Alemanha, tenha divulgado essa semana um crescimento robusto no segundo trimestre, novamente, os mercados europeus preferiram dar mais peso para os dados dos Estados Unidos, trazendo a tona mais pessimismo e levando as bolsas à quedas.

Já no Brasil, quais os riscos? As preocupações iniciais pairavam em torno do superaquecimento – que o crescimento brasileiro acima do seu potencial poderia prejudicar a sustentabilidade da nossa expansão. Esse temor foi afastado depois que os últimos indicadores divulgados apontaram para uma desaceleração da nossa industria e da atividade como um todo. A outra preocupação era em torno do excesso de demanda, que estava pressionando os preços e empurrando a inflação pra cima. Mas, esse temor também está se diluindo – os últimos indicadores mostraram que os preços estão se acomodando. Inclusive, o Banco Central sinalizou a possibilidade do fim do ciclo de aumento da Selic, por conta desse cenário.

Por que o Ibovespa insistia em se preocupar com os mercados internacionais, mostrando queda depois de queda, enquanto nossos fundamentos aqui estão benignos? Enfim, graças a deus, nessa semana esse movimento de “maria vai com as outras” ficou pra trás. Nós finalmente conseguimos sustentar ganhos, ainda que as bolsa da Ásia, Estados unidos e Europa fechassem em queda.

Os investidores das empresas brasileiras administraram as preocupações com o cenário internacional, e deram mais peso para o fim da temporada de balanços – os resultados corporativos surpreenderam positivamente, mostrando que as nossas empresas estão administrando bem suas contas, e saíram com lucro nesse segundo trimestre. Além disso, a retirada gradual de incentivos da economia brasileira está causando uma certa acomodação, mas dá espaço para o crescimento baseado em fundamentos mais sólidos, como massa salarial em ascensão e melhora da confiança do empresariado e dos consumidores – que devem resultar em um crescimento em torno de 7,0% da economia brasileira em 2010.

Então, que fique a lição. Se a nossa bolsa estivesse mais preocupada com os seus negócios e com as nossas empresas, talvez o Ibovespa não tivesse tão atrasado em relação ao crescimento efetivo da nossa economia. Tudo bem que os riscos internacionais devem ser ponderados, mas ainda assim, nossas perspectivas são bastante positivas independente das incertezas externas.

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