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A adolescência prolongada, a pandemia, as redes sociais e o tempo que não queremos esquecer – Sergio Agra

A adolescência prolongada, a pandemia, as redes sociais e o tempo que não queremos esquecer - Sergio AgraA ADOLESCÊNCIA PROLONGADA, A PANDEMIA, AS REDES SOCIAIS E O TEMPO QUE NÃO QUEREMOS ESQUECER

 A palavra adolescência, com cunho psicológico, diz que é o período que se estende da terceira infância até a idade adulta, caracterizado psicologicamente por intensos processos conflituosos e persistentes esforços de autoafirmação, correspondendo à fase de absorção dos valores sociais e elaboração de projetos que impliquem plena integração social.

Para Myra e Lopes (1954), adolescência, do latim adolescere, significa crescer, é um breve espaço de tempo entre a segunda infância e os primórdios da vida adulta. A adolescência foi chamada de segunda edição da infância e os dois períodos têm em comum o fato de que um Id relativamente forte enfrenta um Ego relativamente fraco. Com relação à infância, a adolescência mostra uma necessidade de manutenção dos jogos, não mais os jogos infantis, mas sim o “jogo sério” ou os esportes que ajudam a combater a angústia própria da crise da fase. Pode ser vista como uma fase transicional de perturbações dos mundos psicológicos estáveis da infância e da idade adulta.

A condição denominada adolescência prolongada, cada vez mais frequente em nossa sociedade, motivou a revisão de um trabalho de Rouanet (1992) sobre um novo irracionalismo brasileiro. As origens desse irracionalismo fundar-se-iam em duas principais influências, as externas e as internas.

Com relação às influências externas seria preponderante a contracultura das redes sociais – Youtube, Face Book, Whatsapp, Instagram,Linkedin. Estas ferramentas, das quais Jair Messias, o ainda Presidente da República, é useiro e vezeiro, vomitam diariamente mensagens em que predominam a ofensa, a baixaria, as opiniões e as contradições de cunho político-ideológico, a guerra do fundamentalismo de direita versus o radicalismo de esquerda, que resulta ainda hoje no rompimento das relações com as amizades e com a parentela. Paralelo a essa carnificinadesafetiva há o festival de besteirol:– imagens do sexagenário Cambuquira, socado numa sunga dois números menores ao seu tamanho, banhando-se no Mar Egeu, da siliconada Patricinha dourando seu corpito numa paradisíaca Ilha do Caribe, doMauricinho percorrendo a Rota 66 a bordo de uma flamante Harley Davidson que o paizinho presenteou no último Natal, da Marly Marlene, como de costume, apenas para humilhar as amigas,fingindo adquirir um echarpe de seda na Maison Chanel, nas ChampsÉlisées e na verdade comprou mesmo no Mercado das Pulgas de Saint-Ouen, do Frederico Augusto à frente da vitrina da Rolex, da 5ª Avenida com a 53 Street, exibindo a “joia” na verdade pechinchado em China Town, da Pitt Vat Sistyninee sua amigas, LacíniaTambordeadega e Emanuelly de Alaúsno Dom Restaurante, na Barão de Capanema, São Paulo, com cardápio que oscila entre três a quatro dígitos, pagos com cartão corporativo.

Há, na sociedade brasileira atual, uma onda de irracionalismo, onda essa que tenta colocar em segundo plano o primado da razão. Essa onda se encontra disseminada por diversas áreas com os disfarces, dentre os já vistos, de um nada convincente antielitismo.

Segundo Rouanet, esse clima seria passageiro (aqui, tenho minhas dúvidas) na medida em que a sociedade buscasse iniciar a substituição da antirrazão pela razão. A tendência observada na sociedade brasileira (autoafirmação) do prolongamento do período adolescente não pode ser estudada apenas pela visão psicológica. Evidentemente o apoio de outras áreas do conhecimento humano se faz necessário.

As mudanças no mundo exterior são secundárias à capacidade do ser humano de promover mudanças internas. Para tal torna-se necessário não temer a possibilidade de ficar só, não temer o amadurecimento, aceitar a brevidade da vida e o fato de que um dia partirá deixando o mundo para as gerações seguintes.

Será a pandemia a escola ideal para este aprendizado?

Esta tarefa é lembrada na obra de Sigmund Freud, um racionalista para o qual, onde havia Id, esse deveria ser transformado em Ego. Freud descobriu os limites da razão e com isso armou o homem para sua conquista, conquista esta que não termina nunca. Há necessidade de maior reflexão sobre o assunto para criação de condições de mudanças sociais e psicológicas, que só serão possíveis com a aceitação do fato de que todos temos de envelhecer e morrer.

Em outras palavras, abandonar posições infantis como as que estão abarrotando as páginas dos Face books.

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