A falácia do déficit zero – Jayme José de Oliveira

Jayme José de Oliveira

É uma falácia afirmar que o “mercado” quer o ajuste fiscal, equilíbrio entre a receita e despesa, com a finalidade de lucrar mais. É justamente o contrário, os bancos alavancam seus lucros quando há déficit porque o governo se obriga a pagar mais com os juros em ascensão. Quanto maior for a “gastança” incontrolada, melhor para o sistema bancário.

Durante a entrevista que o ministro Haddad concedeu no dia 30 de outubro de 2023 podia-se ver nitidamente o seu semblante contrafeito. Imprensado entre o seu compromisso com o ajuste das contas federais e a puxada de tapete que a afirmação, com um ano de antecedência, do presidente Lula ao afirmar peremptoriamente que o “déficit zero” não seria alcançado em 2024.

O presidente Lula sabe muito bem que anunciar investimentos, reajustes salariais, aumento de gastos em educação e saúde são música para o ambiente sindical, principal base de seu eleitorado. O problema é que quando efetuado sem caber no orçamento geram déficit e, com isso, a elevação dos juros não tem como ser evitada e a inflação estruge. Outro fato que não pode ser esquecido, foi o governo quem propôs o déficit zero para 2024 e ao afirmar, já em 2023, que esta é uma meta irrealizável, como Haddad e Simone Tebet terão argumentos para encarar o Congresso e pedir aprovação de medidas necessárias para manter a Economia nos trilhos sem descarrilhar?

O ministro Haddad enfrentou sérias resistências ao ser anunciado, mas conseguiu paulatinamente projetar uma confiança crescente com suas atitudes coerentes em vários setores e sua permanência é estimulada em consenso. Hoje, se for substituído apesar dos seus acertos, provocará desalento em pessoas e organizações que vislumbram um futuro risonho se esboroando passo a passo devido às declarações inadequadas do presidente Lula.

Em entrevista Haddad quando questionado, quatro vezes, sobre a incongruência verificada entre o equilíbrio econômico e financeiro prometidos – ajuste fiscal – e as declarações do presidente Lula, que deixou transparecer não concordar com as restrições que seriam impostas aos gastos do governo, emparedado, o ministro não garantiu a manutenção das metas adredemente anunciadas – buscar o equilíbrio fiscal com medidas coerentes – mas reafirmou que manterá suas convicções seguindo uma linha econômica ortodoxa na qual acredita para promover o equilíbrio das contas públicas. “Continuo acreditando na importância de promover o equilíbrio financeiro das contas públicas porque este é o caminho a ser seguido para obter os resultados desejados. Preciso do apoio político do Congresso e do Judiciário que até agora tenho obtido”.

Manter o nível o nível de investimentos públicos em obras é uma prioridade absoluta do presidente Lula e isso não combina com a exigência de déficit zero em 2024. Considerando ser objetivo essencial formar uma base eleitoral ampla, não se cogita falar em contingenciamento de gastos.

Porém, como diz o provérbio popular: “Não dá para assobiar e chupar cana”.

Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado

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