A turba
Outra vez no Olímpico, num jogo entre Grêmio e Pelotas, o técnico do Pelotas era o “Foguinho”, que havia ajudado no passado ao Grêmio ganhar vários Campeonatos Gaúchos. Mas naquele jogo o “Foguinho” era adversário.
No final do primeiro tempo, o treinador começou lentamente a se dirigir ao vestiário, com a turba a acompanhá-lo pelo lado de dentro do alambrado e, gratuitamente, a ofendê-lo. Havia entre os zombadores uma figura franzina, de aparência tísica, sem os incisivos superiores, deixando à mostra dois enormes caninos; era quem mais vociferava os insultos.
Do banco à boca do túnel “Foguinho” caminhou indiferente às provocações. Entretanto, ao chegar ao túnel, parou, olhou para a figura desdentada e revidou irreverente: “Vai botar uns dentes, seu relaxado”, e entrou sem esperar a resposta.
Em outro jogo um torcedor ao meu lado, aborrecido pelas brincadeiras ao seu redor, resolveu encharcar com barro e água da chuva que caíra algumas folhas de jornais e jogá-las no pessoal de cima da arquibancada. O pacote lançado não abriu e a volta veio certeira nas minhas costas, cobrindo-a de água e lama. Resultado: a turba passou o resto do tempo me chamando de “João-de-barro”.
O humor do torcedor por vezes é agressivo, mas em outras é de puro e fino sarcasmo.
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Eu moro perto de um hotel onde ficou hospedada a Seleção da Austrália. Aconteceu que eu caminhava pela frente do hotel no momento em que os jogadores entravam no ônibus que os levariam ao estádio. Havia um pequeno séquito em volta da porta do hotel, contida por uma corrente de policiais. Eu também parei levado pela curiosidade. Um a um, os jogadores entravam no ônibus sob aplausos e gritos. Mas havia um rapaz barbudinho que, a cada jogador que passava, erguia o braço, e gritava: “ei…, ei…, bichona, canguru filho duma…!”. E os jogadores retribuíam em sorrisos e abanos sem saber que, na verdade, eram tratados com vilipêndio pelo barbudo.
Restou-me rir, e lembrar os tempos em que eu freqüentava os campos de futebol.