Agora, sim, está explicado!
O dolce far niente ficou apenas no projeto. Como os exercícios aeróbicos que a caminhada diária propicia o escrever é um vício irreversível: retornei cedo demais. Deveria esta, pois, ser a crônica primeira de 2013, comentando o balanço reflexivo, sobretudo, do que fora para mim, literariamente, o ano recém findo.
Lancei dois títulos – O Corpo de Gioconda (Crônicas) e Uma Casa Chamada Nazareth (novela destinada ao público adolescente).
A noite de autógrafos do Corpo de Gioconda em Porto Alegre fora de excepcional brilho e presença de mais de centena de amigos e leitores. Em contrapartida, em Capão da Canoa, compareceram somente os verdadeiros e sinceros amigos (para alívio do autor não são poucos!) que soubera granjear nestes anos em que aqui não apenas resido como fui perene ativista cultural.
Mas faltou – e põe faltar nisso! – muita gente: os leitores deste Litoralmania que, no transcuro desses cinco anos, não hesitaram em tecer seus comentários acerca de uma crônica ou de um conto; os políticos (sem surpresa alguma) que sequer põem os pés nas Feiras do Livro; os profissionais, por força de sua formação, tidos como intelectuais; meus parceiros (?) – pasmem! – de bancada das terças-feiras do programa radiofônico de opiniões do qual somos debatedores, os ouvintes do referido programa, menos ainda os participantes dos demais dias da semana (serão, acaso, avessos à boa leitura?); a ex-diretoria da Casa de Cultura Érico Verissimo; a atual liderança da Casa do Artista Caponense, como de hábito, ausente – que paradoxo! – na maioria das sessões de autógrafos dos escritores da cidade).
Aí pensei: seria pela razão de, em sendo opiniático, entenderem que ofendo as pessoas?
É um erro! Trato as pessoas como adultas. Critico-as. É tão incomum isso no nosso convívio que as pessoas acham que é ofensa. Crítica não é raiva. É crítica. Às vezes é estúpida. O leitor (ou ouvinte) que julgue. Acho que quem ofende os outros são os que teimam em permanecer em cima do muro, que não querem contestar coisa alguma. Meu tom às vezes é sarcástico. Pode ser desagradável. Mas é, insisto, uma forma de respeito, ou, até, se quiserem, a irritação do amante rejeitado.
Mas não fora somente esta a provável razão de não compartilharem do momento feliz deste escrevinhador. Eis, então que me chega às mãos o texto (de autoria desconhecida) que reproduzo algumas frases:
“Quando Winston Churchill, ainda jovem, acabou de pronunciar seu discurso de estreia na Câmara dos Comuns, foi perguntar a um velho parlamentar, amigo de seu pai, o que tinha achado do seu primeiro desempenho naquela assembleia de vedetes políticas. O velho pôs a mão no ombro de Churchill e disse, em tom paternal: “Meu jovem, você cometeu um grande erro. Foi muito brilhante neste seu primeiro discurso na Casa. Isso é imperdoável. Devia ter começado um pouco mais na sombra. Devia ter gaguejado um pouco. Com a inteligência que demonstrou hoje, deve ter conquistado, no mínimo, uns trinta inimigos. O talento assusta.” A maior parte das pessoas encasteladas em posições políticas é medíocre e tem um indisfarçável medo da inteligência. Isso na Inglaterra. Imaginem aqui no Brasil. Temos de admitir que, de um modo geral, os medíocres são mais obstinados na conquista de posições. Sabem ocupar os espaços vazios deixados pelos talentosos displicentes que não revelam o apetite do poder. Eles conhecem bem suas limitações, sabem como lhes custa desempenhar tarefas que os mais dotados realizam com uma perna nas costas, enfim, na medida em que admiram a facilidade com que os mais lúcidos resolvem problemas, os medíocres os repudiam para se defender. Como é sábio o velho conselho de Nelson Rodrigues: finge-te de idiota e terás o céu e a terra. O problema é que os inteligentes gostam de brilhar. Que Deus os proteja.”
Agora, sim, está tudo explicado.
Ao menos para mim!