Na última reunião do Copom, os diretores do Banco Central surpreendentemente optaram por reduzir em 0,5 p.p. a taxa Selic, trazendo-a para 12,0% a.a.. Deixando de lado toda a discussão macroeconômica se a decisão foi acertada, política ou equivocada, pretendo me ater à sua influência no campo microeconômico, sua repercussão sobre as empresas de capital aberto e, por conseguinte, o Ibovespa.

Inicialmente é importante entendermos o que exatamente é essa taxa e como ela influencia a vida dos brasileiros. Deixando o “economês” de lado, essa taxa representa o custo do dinheiro na economia brasileira, ou seja, quanto mais elevada é a Selic, significa dizer que mais elevado é o custo do dinheiro. Logo, mais difícil é para o consumidor adquirir produtos e serviços. Naturalmente, quando a taxa é reduzida, o movimento é inversamente proporcional. Assim, na medida em que o custo do dinheiro no Brasil é reduzido, o consumo é incentivado.

Outro ponto relevante sobre a taxa Selic recai sobre a Renda Fixa. A maior parte dos investimentos nessa modalidade no Brasil utiliza a taxa Selic como benchmark. Com isso, é factível pensarmos que, quanto menor a taxa de juros, menos atrativo é o investimento em Renda Fixa. Ou seja, tal investidor passa a melhor avaliar o risco X retorno de se investir em renda variável, em detrimento da Renda Fixa.

Por fim, o movimento de queda da taxa de juros significa menor custo de captação de empréstimos para as empresas brasileiras. Isso é importante, pois reduz a pressão das despesas financeiras sobre o balanços das companhias, consequentemente ajudando a aumentar sua rentabilidade.

Com base nesses três tópicos, entendemos que o investimento em renda variável brasileiro se tornará ainda mais atrativo. Não só pelo fluxo de parte da Renda Fixa sendo realocada em bolsa, mas também pelo valuation mais atrativo das companhias, que terão menos custos financeiros. Em relação ao aumento do consumo, apesar de todas as empresas serem de alguma forma expostas a taxa de juros, observamos que 34 das 68 empresas que compõem o Ibovespa detém correlação direta com a taxa. Tais companhias detém um peso de 43,3% no índice. Ou seja, a exposição a consumo das empresas do Ibovespa é bastante significativa.

Apesar de o Ibovespa permanecer estável desde a redução dos juros, vale lembrar que o período foi de realização no mercado externo, com as bolsas norte-americanas apresentando cerca de 5% de desvalorização e as europeias 8%. Isso significa dizer que, pelo menos no curto prazo, o tal descolamento negativo que a bolsa brasileira vinha apresentando em relação aos players globais, vem ocorrendo de forma oposta desde a decisão do Copom.

Sem fugir da polêmica pergunta que intitula o texto, seria cedo afirmar que “agora vai!”, mas definitivamente acredito que o investimento em renda variável no Brasil teve no Copom o estopim de que precisa para se tornar mais atrativo. Com isso, aumentamos significativamente na XP nossa exposição a empresas ligadas a consumo interno, principalmente nas Varejistas e Construtoras. Em suma, difícil afirmar se “agora vai”, mas que está mais fácil de “ir”, isso está.

Gustavo Pires
Área de Análise

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