As Cavalariças de Áugias

“O analfabeto político é tão burro que estufa o peito dizendo que odeia política. Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nascem a prostituta, o menor abandonado e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais”. (Bertold Brecht)

Os problemas brasileiros não devem nem podem ser debitados a uma grei em particular. Todos contribuíram, em maior ou menor parcela, para o descalabro que hoje nos aflige.

Do livro de Monteiro Lobato que versa sobre o 6º trabalho de Hércules: “As Cavalariças de Áugias”, nas palavras de Emília, a boneca de pano tagarela: “se as cavalariças exigem um Hércules para limpá-las, então este tal de Áugias tem cavalos que não acabam mais”.Pode ser tomado como parâmetro e, mais do que nunca, procure-se um Hércules contemporâneo para efetuar a higienização dos nauseabundos malfeitos sedimentados pelos que os deixaram acumular ao longo da história, desde o Estado Novo, sucessivas camadas de lama pestilenta deslustrando suas biografias e desmerecendo nossos sufrágios.

Áugias, rei da Élida (Grécia), filho do deus Hélio, era proprietário de grandes rebanhos de cavalos. Como não limpava os estábulos, um dos motivos era o fato de serem carnívoros e, inclusive, se alimentarem com os que ousavam se aproximar para higienização,ao longo dos anos uma quantidade imensa de esterco foi se acumulando e exalava um cheiro insuportável. Hércules, encarregado de efetuar a limpeza, desviou os rios Alfeu e Peneu que, apenas num dia, com suas fortes correntezas carregaram todo o estrume acumulado.

No Brasil, dificultando a tarefa, além de desinfestar e desinfetar há que se procurar minimizar os prejuízos e reencaminhar o país à trilha do progresso por tantas vezes interrompido ou retardado.

Após a proclamação do resultado, dois pronunciamentos sinalizam, se forem respeitados, uma luz no fim do túnel:

Aécio, ao acatar sem ressabios e indicativos duma oposição raivosa e intransigente, que apenas acirraria os ânimos a um extremo insustentável.

Dilma afirmando alto e bom som que não compactuará com a corrupção endêmica que assola o país no discurso pronunciado logo após a proclamação do resultado das urnas: “Terei um compromisso rigoroso com o combate à corrupção, fortalecendo as instituições de controle e propondo mudanças na legislação atual para acabar com a impunidade que é a protetora da corrupção. Ao longo da campanha anunciei medidas que vão ser muito importantes para que a sociedade brasileira e o país como um todo enfrentem a corrupção e acabem com a impunidade” (SIC). Neste desiderato enfrentará uma tarefa tão hercúlea quanto à da limpeza das cavalariças de Áugias. Apenas obterá êxito com o desvio das límpidas águas dos rios Moralidade e Pertinácia, sem tergiversar ou aplicar panos quentes para não ferir suscetibilidades dos que não merecem o olvido de suas prevaricações.

Nunca é tarde para iniciar a varredura, mas quanto antes, menos penosa e hercúlea a tarefa. Se não o fizermos estaremos nos encaminhando, inevitavelmente, para uma sociedade anêmica, desesperançada e dessacralizada.

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