Balança, mas não cai

A macroeconomia não anda pintando um cenário bonito. Os últimos meses não têm sido fáceis. A começar pela Europa, com uma dívida gigantesca e com problemas para aprovar e executar planos de austeridade equilibrados, afinal de contas, a diferença entre o remédio e o veneno é a dose. Não tivemos enormes mudanças na última semana com relação a uma solução estrutural para a situação. Apenas muitas conversas e nada de atitudes robustas.

Nos Estados Unidos, a dívida ultrapassou o teto e os índices divulgados, dia após dia, ainda não mostraram uma recuperação próxima. Se o crédito nesses países for definitivamente afetado, certamente seremos atingidos.

Sofreremos menos do que os países desenvolvidos, é claro. No entanto, a demanda por commodities poderá cair com a desaceleração do crescimento mundial, o que seria prejudicial já que exportamos um volume enorme de commodities. Aliás, são elas que deixam nossa balança comercial positiva. Além da queda das exportações, também seremos afetados pela menor disponibilidade de crédito no mundo, em linha com o que ocorreu em 2008. Isso afetaria indústrias que precisam desse tipo de capital para manter seus planos de investimento.

Mas observe que ninguém vive sem comer. As pessoas param de comprar iPods, roupas, carros, computadores, mas ninguém para de se alimentar. Portanto, os impactos por aqui seriam mais curtos e superficiais do que em economias basicamente manufatureiras e desenvolvidas. E, além disso, ainda temos uma economia aquecida, apesar de o Copom ter iniciado um possível ciclo de redução de juros.

O mercado sabe disso tudo o que comentei. E é por isso que as commodities, especialmente as agrícolas, balançam, mas não caem. Milho e soja continuam em patamares elevadíssimos.

Acontece que, com a situação apertada dos estoques de milho nos Estados Unidos desde o início da colheita em 2011, a safra recorde que o mundo esperava não veio. Pelo contrário. Os americanos, maiores produtores e exportadores do produto, sofreram com as temperaturas mais elevadas desde a década de 50 e com o tempo mais seco desde a década de 30. E isso em pleno período mais importante para o desenvolvimento da cultura. Não é por acaso que a produtividade foi extremamente comprometida.

No caso da soja, a situação é menos apertada pensando em estoques. Agosto, importante período de desenvolvimento para as lavouras de soja nos Estados Unidos, não foi tão quente e seco como julho, o que deixou a situação um pouco mais confortável. Mas, pensando num cenário mais amplo, fica muito difícil pensar que as baixas não encontrarão suporte neste momento. É claro que, nos níveis de preços atuais, a China diminuiu um pouco o apetite pelas compras, mas é só o valor baixar que o fluxo comprador entra novamente.

Com isso, as commodities agrícolas iniciaram um emocionante rally nos últimos meses. Deram excelentes oportunidades aos investidores que encontraram dificuldades em lidar com ações e se consolidaram como uma excelente alternativa à carteira quando utilizadas com um bom gerenciamento de risco. Neste cenário, acreditamos que o mercado de commodities deverá seguir extremamente volátil, oferecendo boas oportunidades para compras e vendas.

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