Colunistas

Chuvas de Setembro – Erner Machado

Pois chuvarada sempre é chuvarada. Lembro-me de uma vez, mais ou menos em 1957, em Rosário do Sul, que choveu sete dias e sete noites e o rio Santa Maria foi enchendo, enchendo e suas águas superaram a altura das margens de contenção naturais e se mandaram coxilha acima, entrando por dentro de campos e de matos indo, finalmente, acalmarem-se quando alcançaram os limites da chácara do seu João Nunes da Silva, que fica coisa de uns cinco quilômetros em direção a São Gabriel.

Agora, distante do meu rio e longe de minha terra, há muitos anos, sempre que acontecem estas chuvaradas eu fico pensando na enchente do meu rio.

Morávamos na Vila Santo Antonio e, durante este período de águas, o divertimento das famílias e da gurizada era ficar na beira admirando a grande estrada de água na qual havia transformando-se o meu rio.

A cada dia, no qual mais e mais chovia, a gente apreciava o rio levando no seu leito, calmamente boiando, camas, armários, carroças, cadeiras e bancos, como que entregues a correnteza.

Um dia nós vimos uma casa sendo levada, de cuja estrutura, aparecia, somente, a cumeeira com telhas de lata brilhando ao sol como um barco fantasma.

Sobre o telhado, com muita tranquilidade um porco branco e gordo navegava, tranquilo como comandante desta estranha embarcação.

Um dia, uma moradora da vila Progresso, desesperada puxava os cabelos e gritava para que a ajudassem a enxergar o seu marido que tinha caído no leito do rio e com certeza, passaria ali, nadando e lutando para salvar a vida.

Anoiteceu e ninguém viu o homem passar.

Ao fim da tarde, nas desertas margens do meu rio, o silencio da noite que se aproximava era interrompido pelos lamentos da mulher que solitária continuava olhando o rio…

Assim estas chuvas têm, com as dores que e o estragos que trazem, o poder de me trazer a mente esta lembranças e como se fosse o guri, de tantos anos atrás, fico imaginando quantas coisas os rios, carregam, quando transbordam e, por incrível que pareça as coisas e as pessoas que os rios levam nunca voltam e quando voltam são diferentes de quando partiram.

Ano que vem tem mais chuvaradas e tem mais rio transbordando e tem mais coisas e gente sendo levadas como passageiros contrariados presos às algemas das correntezas…

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