Como terminar com o sofrimento para sempre?* – Dr. Sander Fridman

Dr. Sander Fridman é Doutor em Psiquiatria pelo IPUB/UFRJ. Atende Neuropsiquiatria, Psicanálise Cognitivista, Transtornos Sexuais e Relações Conjugais.

Mas o que é para sempre? Enquanto durar o Universo? O Tempo? A sua consciência?

Como terminar com o sofrimento para sempre?* - Dr. Sander FridmanPoderemos ter um sentimento de alívio quando não mais existir nossa consciência? Poderá a morte trazer o sonhado alívio? Ou a morte, com o poder de de fazer cessar a consciência, impedirá também a experiência do alívio? Sem que a angústia jamais nos tenha nos abandonado? Sem que nunca tenhamos voltado a experimentar a vida com prazer e leveza, libertados dos problemas que tanto nos atormentaram?

Terão, então, durado nossos problemas para sempre, ou seja, por todas as horas, minutos e segundos em que formos capazes para perceber a vida e a nós mesmos? Enquanto nos tiver sido dado o milagre da consciência?

O gozo da libertação do sofrimento por nossos problemas não terá sido então proporcionado pela morte? Terá a morte, então, ao contrário, conservado, em nós, para
sempre, nosso último estado, nossa última experiência, sejam estes de serena platitude contemplativa, ou de revolta e angústia?

Neste caso, terá “para sempre” o significado, tão somente, de “enquanto eu viver”? Na morte, terão então durado para sempre, até o infinito de nossa percepção, a dor, o sofrimento, a vergonha, o fracasso? A morte significará então perpetuação da dor, em lugar de alívio? Se a vivência de um depois da morte não nos pertence, o alívio do após tampouco nos pertenceria?

As iniciativas que hoje se oferecem em sede de “medicina do fim da vida”, chamados tecnicamente de “cuidados paliativos”, aliviando o sofrimento, a dor, a solidão, talvez beba também em conceitos como este, além do direito mais comezinho do paciente, que, quando não houver cura, ao menos alívio lhe seja facultado.

Mas, e se, de fato, houver um depois da morte?

E se uma vida do espírito se prolonga para além da morte, uma consciência que permanece ativa depois de que o corpo deixa de nos servir?

E se essa consciência, alojada num espírito que sobrevive ao corpo, puder, de algum modo, acessar, assistir, a vida que deixamos para trás, deixaremos de nos preocupar com os problemas que deixamos para trás? A evolução de nossa imagem na mente das pessoas, o sofrimento daqueles que amamos, o esquecimento com que somos brindados, permitirá que vivamos o desejado alívio? Ou seguiremos angustiados com o que não resolvemos, com o que já não mais poderemos resolver – nossas culpas, fracasso, decepções?

O que dizem sobre isso aqueles que se debruçam e se debruçaram sobre a vida do espírito, depois da morte? O que dizem estes sobre a vida depois da morte daqueles que
deliberadamente abreviaram suas vidas terrenas para encontrar fuga ou alívio?

Parece ser universal! Todos os povos alertam para terríveis consequências para os que antecipam deliberadamente suas mortes, cada qual de acordo com sua própria mitologia.

Mas, e se nossa necessidade de alívio, de fugir, de nos escondermos, nossa convicção da incapacidade de resolvermos nossos problemas, de estarmos sendo acusados, humilhados, envergonhados…

E se tudo isso não for mais do que, de algum modo, mera criação de nossa imaginação?

Pensamentos e experiências dentro de nossas atormentadas cabeças, fomentada por um estado de doença que nos impede de perceber a realidade com clareza?

E se toda essa angústia e sofrimento decorrerem, na verdade de equívocos forjados por uma doença depressiva, por exemplo? E se nossa percepção puder mudar com o
tratamento eficaz, e com ela nosso poder de mudar a vida que temos, poderemos, aí sim, obter um alívio consistente e prolongado de nosso sofrimento, vergonha, angústia e impotência? Como se fosse para sempre, ou quase? Poderemos viver isso em nossa consciência e na prática?

Serão os bons tratamentos psiquiátricos e psicológicos caminhos mais confiáveis para alcançarmos alívio mais consistente para nossos sofrimentos, sempre que necessário?

Dr. Sander Fridman – Psiquiatra, Doutor pela UFRJ, Pós-Doutorado pela UERJ, Ex-diretor científico do Serviço de Doenças Afetivas da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, Ex-Responsável pela Clínica das Depressões no Centro Médico Adventista Silvestre de Botafogo, Rio de Janeiro.

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