De Mala de Garupa e de Tamancos

A minha irmã Rosa e o meu cunhado Jorge, quando vem me visitar me trazem, sempre, uma lembrança. Ano passado trouxeram-me uma Mala de Garupa feita de brim encorpado e capaz de aguentar uma arroba em cada lado.

Como não ando mais a cavalo e não tenho mais arreios, usei-a para armazenar meus sonhos. Tenho a certeza de que, ali, estão bem guardados.

Às vezes, nas madrugadas ou nos crepúsculos dirijo-me, silenciosamente, à minha Mala de Garupa e pego um sonho e passo a  vive-lo. O convívio com este sonho me permite ter os olhos no presente e a mente no futuro como uma forma de, a cada sonho que pego da minha Mala, refazer minha crença em mim e no meu mundo. O presente, deste ano, foi um Par de Tamancos. De madeira e couro, como os antigos.

Com estes tamancos os homens que povoaram a minha infância, construíram seu mundos pisando sobre a flechilhas dos campos,e enfrentavam seguros, todos os tipos de espinhos, pedras e tocos que infernizavam os pés dos menos avisados que não usavam tamancos.

Iam, de manhã, para as mangueiras tirar leite das vacas, com seus tamancos,quebrando o gelo das invernias da pampa.

Muito obrigado minha irmã e meu cunhado pela Mala de Garupa onde guardo, seguros, os meus sonhos e pelo par de Tamancos que me protegerão quando eu, ao vivê-los,  me encontrar com os mormaços  dos verões ou com as geleiras dos invernos da minha vida e topar, desavisado com algum espinho ou com tocos pontiagudos das minhas estradas.
E, assim, com a Mala dos meus sonhos e com meus Tamancos, sigo  enfrentando  o mundo de chapéu torto e peito aberto…

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