Colunistas

De sogros e ogros

O Maluco Beleza da poesia gaúcha – Fabrício Carpinejar (forma inteligente para não ser eternamente reconhecido como o filho do poeta e membro da Academia Brasileira de Letras, Carlos Nejar) – escreveu há poucos dias uma crônica, com toda a verve da irreverência que lhe é peculiar, intitulada “S_Ogro”.

Nela, o escritor destila todo o seu veneno contra seu atual sogro, de quem jamais fora objeto de agrados e simpatias, pelo contrário.

Ouso discordar de Carpinejar. Excetuando-se a legião – nada pequena, diga-se de passagem! – dos sogros que, para seus genros, são ou foram autênticos volantes premiados da Mega Sena, trazendo neles, “enrolada para presente” o “prêmio adicional”, a filha encalhada, o sogro, em determinadas circunstâncias, ganha o status que muito pai não soube ocupar.

Tive um pai – falecido aos cinquenta e cinco anos – dotado de extrema afetividade, sem que isso ensejasse olvido de sua responsabilidades e, no momento certo, do uso da severidade. Desde moleque, levava-me ao Olímpico para assistir os grandes clássicos. Em contrapartida, “tomava-me a lição” às vésperas das antigas sabatinas, cobrando-me a aprovação a cada ano letivo. Suas férias eram desfrutadas inteiramente com a família, em viagens ou temporadas na praia, previa e democraticamente por nós decididas.

Com meu sogro, tive a continuidade da face lúdica da interação. Quando íamos – minha mulher e eu – para Balneário Camboriú, onde ele residia, esperavam-me uma geladeira abarrotada de cerveja e o compartilhamento de suas alegrias: campeonato de bocha, rodadas de sinuca e incontáveis almoços de suas confrarias, ou sob as sombras da mata então não devastada da Praia de Laranjeiras, ou no distante e paradisíaco sítio de confrades. Fora, ainda, meu sogro que, em raras circunstâncias, desempenhou papel que somente um pai – a exemplo de que fora o meu – incondicionalmente desempenharia.

Sogro não há de ser um volante lotérico premiado “com uma mulherzinha em cima”; tampouco “ogro”, como, irreverentemente tratou Carpinejar em sua crônica. Sinal que ele, o Maluco Beleza, excetuando-se os por ele mesmo citados, em algum particular não se saiu muito bem.

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