Divulgadas as letras e a ordem das apresentações da 21ª Tafona da Canção Nativa
A abertura do 31º Rodeio de Osório será realizada na próxima quarta-feira, dia 25, às 20h, próximo à cancha de laço, e vai contar com a apresentação da Galera da Rima e do desfile dos cavalarianos. A abertura da Tafona será realizada na sexta-feira, dia 27, no anfiteatro do parque, às 20h, e contará com o show da Galera da Rima.
O evento é uma realização da Prefeitura de Osório, mais informações na Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Turismo pelo telefone (51) 3663 8237. Confira as letras das canções e a ordem de apresentação:
01 – LEITURA
Letra: Eduardo Munõz e José Carlos Batista de Deus
Melodia: Carlos Madruga
Intérprete: Pirisca Grecco
Linha: Riograndense
Não é convite pra o sono,
Nem jujo pra solidão
O livro parece um sábio
Que aberto alonga a visão…
Estrada que a alma cruza
Sem nos deixar ir embora,
Janela onde a claridade
Não vem do lado de fora…
Ao mesmo tempo que lê
A gente pode ser lido,
Em um suspiro mais longo
E até no cenho franzido,
Num verso que cria asas
Nos traços de uma gravura,
Por vezes o pensamento
Também permite leitura!
“Tá” no idioma dos potros
No faro dos rastreadores
Na entrega das partituras
Aos dedos dos tocadores…
Na mão que serve de guia.
Nos olhos que são ouvidos…
Quem lê o mundo em sinais
Sabe a razão dos sentidos…
Penso que o livro fechado
É a boca implorando voz
Igual aos sonhos da infância
Que se extraviaram de nós…
E as folhas amareladas
Denotam a preferência:
– A própria vida se engana
Ao ler pelas aparências…
Mais certa que a voz do rádio
É a previsão do homem rude
Sabe se chove ou se venta
Bem antes que o tempo mude
Sempre é tempo de aprender
Seja qual for a leitura…
– Riqueza que ninguém perde
A vida chama cultura!!
02 – DEMOROU JÁ CHEGOU!
Letra: Cristian Sperandir e Ivan Therra
Melodia: Adriano e Cristian Sperandir
Intérprete: Graziela Pacheco
Linha: Pesquisa Litorânea
Demorou já chegou
Ta aí agora veio pra cantar
Demorou já chegou
Ta aí agora veio pra ficar
É o balanço da raça, o balanço da terra
Misturando e encantando esse mundo todo
Essa gente bonita trazida de longe
Fazendo cultura é o nosso povo
Tá na fala, na fé, na crença, no santo
Na arte de viver tudo misturado
Na Favela, na Vila e no Corredor
No centrão, na cidade e no filho que vem
Demorou já chegou…
Já chega de espera é o nosso momento,
Revendo os conceitos, trazendo bons ventos
Sentindo na pele o tambor batucando
Buscando um caminho prá ser mais humano
Tá na fala, na fé, na crença, no santo
Na arte de viver tudo misturado
Na Favela, na Vila e no Corredor
No centrão, na cidade e no filho que vem´
Demorou já chegou…
Estamos por aqui
Juntando o que Deus deu
Pra mostra que a igualdade está na diferença
É o que temos de bom
Acordes naturais, mutações transitivas,
É nossa a liberdade
E nós podemos mais!
Demorou já chegou…
03 – AMOSTRA GRÁTIS
Letra: Rodrigo Bauer/Amigo Souza/Pedro Jr.
Melodia: Amigo Souza
Intérprete: Flávio Hansen
Linha: Riograndense
Sou cantor Amostra Grátis, porque o mercado anda feio,
mando meu disco pras “rádio”, devolvem pelo correio!
Num programa de auditório, abri o peito pro pessoal,
nem no refrão tinha ido, chamaram os “comercial”!
Quando cruzo nas “triagem” fico muito emocionado,
embora sei que, no ensaio, já “tô” desclassificado!
Tenho só um troféu na estante, de quando a sorte ajudou;
nós “era” dois concorrente e o meu rival enfartou!
Que zebra, que urucubaca! Sou Cantor Amostra Grátis!
O meu cachê “tá” mais fraco do que bico de dez watts!
Desliguei a campainha que, pelo menos, assim
quem me procura se obriga a bater palma pra mim!
Só toco em churrascaria, é lá que faço o meu nome…
O dono diz que, me ouvindo, o povo até perde a fome!
De vez em quando um cliente, por bondade ou gentileza,
compra um CD e vai embora, deixando o disco na mesa!
O meu som, de tão antigo, eu já vendi pro museu…
Meu fã-clube “tá” deserto desde que a vovó morreu!
Nem mesmo pela Internet consigo fazer sucesso,
meu “blógue” faz quatro anos que não tem nenhum acesso!
Que zebra, que urucubaca…
Dei meu disco pra um amigo e ele agradeceu bastante,
mandou ampliar a capa e fez um banner gigante…
Eu fiquei muito faceiro com a propaganda gratuita
e ele botou na lavoura pra espantar as “caturrita”!
Estacionei lá no centro, quando desci do Corcel,
veio um homem pro meu lado com caneta e papel!
Estufei bem o meu peito pra autografar, exibido…
Era uma multa, que o carro “tava” em local proibido!
04 – TERRA DOS VENTOS
Letra e Melodia: Mário Tressoldi e Chico Saga
Intérprete: Grupo Chão de Areia
Linha: Pesquisa Litorânea
Vejo do morro a terra dos ventos
E lembro um tempo que já se foi…
Velho vapor na estrada de ferro
E antigos barcos chegando no porto.
Os flertes da vila nos bancos da praça,
Sonhar no cinema aos fins de semana,
Fazer serenata na noite de lua,
Jogar um capote na velha tafona.
O meu coração acordou um tambor,
Que fez marcação para o som da viola,
Na linda Borrussia cantei:-“Oilarai”
E no Morro Alto virei quilombola.
Osório é a terra que me faz cantar,
Estância da serra linda Conceição,
Osório dos ventos que fazem voar
Os sonhos que habitam a minha canção.
Osório é a terra que me faz cantar,
Estância da serra linda Conceição,
Osório dos ventos meu verso, meu lar,
É luz do futuro a girar em meu chão.
As Cavalhadas, os ternos de reis,
O maçambique com sua congada,
A procissão pra louvar o Divino
Crinas ao vento a correr carreirada.
A terra em que moro foi berço do herói,
Que empresta o seu nome pra este lugar.
Ecoa nas margens das lindas lagoas,
Histórias que o vento me fez recordar.
A vida que sopra navega no tempo
Transforma a paisagem desta sesmaria
Embala a dança destes cata-ventos
E toda beleza se faz energia!!!
05 – EU CANTO APENAS O BARRO
Letra e Melodia: Lisandro Amaral e Guilherme Collares
Intérprete: Lisandro Amaral
Linha: Riograndense
Eu canto apenas o barro
que cai em pó das taperas…
que derramam muitas eras
onde cantando me agarro.
Repito a rima do barro
pois barro em barro serei.
Estou em mim e andarei
levando o canto senhor
com barro de parador
e o pó que um dia serei…
E ali serei batizado
benzido de sanga e luz…
nos quatro cantos da cruz,
fronteiriço em meus herdados,
canto o meu tempo – soldado –
neste meu pago – partida
qual uma hóstia ungida
por barro de rancherio
cifra e milonga pariu
a quincha eterna da vida…
Nasci de um ninho de barro
e a ele volta meu sono…
urna de pampa e abandono,
sombreado umbu – meu sacrário.
Relíquia é o verso santuário
na sanga benta do tempo
onde bebendo lamentos
verti lanceiro e taquara
e agonizei nas coivaras
da força escura dos ventos!
O meu pranto viverá
em cada ser que arrepia…
quando a milonga nascia
já voejava o “chajá”,
voava algum chiripá
deixando lã nos atalhos
por cifra em barro eu espalho
o meu cantar couro cru:
(se o meu avô foi umbu
eu sou calhandra em seu galho)
Se sou calhandra que canta,
esta é a garganta que tenho!
Pois no barro de onde venho
há um clarim em levante,
hombridade itinerante
que faz parede e encerra
os frutos negros da guerra
pelo perdão no meu pranto
barro do campo eu levanto
pra reescrever minha terra
06 – GALHO SECO
Letra: Olgi Zauza Crejci
Melodia: Piero Ereno e Jean Kirchoff
Intérprete: Analise Severo
Linha: Pesquisa Litorânea
Um simples fiozinho d’água,
pequeno leito, vadeia…
desviando pedras e areia,
tentando chegar ao mar;
Que nem eu – vazio de amores –
no rastro de uma saudade,
deixo mágoas e ansiedades
no intento de te encontrar.
Você disse ao ir embora:
“Um dia quando eu me for,
cante sempre o nosso amor
em versos enamorados…”
Galho seco também chora
a seiva, as folhas e os ninhos,
que um dia os passarinhos
deixaram aos seus cuidados.
Na correnteza dos anos
vi os meus sonhos naufragando,
mas continuo esperando
atento à poeira da estrada;
Se a folha seca retorna,
saudosa, ao passar do tempo,
bailando nas mãos do vento,
como quem surge do nada.
Venha iluminar meu estro
nas sendas do coração,
dar vida à minha canção
ao me abraçar outra vez.
Na manhã ensolarada,
venha sorrir no meu ombro,
que seja sob os escombros
de um sonho que se desfez!
Mesmo que seja num sonho,
que Deus possa ouvir o grito
de quem mateia solito
e que o eco responda…
À tarde está tão bonita
para voltar a querência
antes que a noite e o silêncio
este ranchinho esconda.
07 – HA MUERTO FLORENCIO AYMAR
Letra: Martim César
Melodia: Paulo Timm
Intérprete: Maria Conceição
Linha: Riograndense
Yo tengo pena del mar
Que ya no verá a su amigo
Ha muerto Florencio Aymar
Y la tierra será su abrigo
Si ayer no más en las olas
Cruzó por el mundo entero
¿Cómo entender que es ahora
Un barco rumbo al entierro?
¡ Qué triste se queda el mar
Sin su canción en el viento!
Ha muerto Florencio Aymar
Del lado de acá del puerto
Te llora el llanto del mar
Y el niño que un día fui
Ha muerto Florencio Aymar
Mi padre…patria y país
Desde mi infancia aún te veo
Cruzando mares de tiempo
Fuiste mis alas de sueño
Después tan solo un recuerdo
08 – MARIA TERESA
Letra: Loreno Santos e Patrícia Ouriques
Melodia: Loreno Santos
Intérprete: Loreno Santos e Mari Ramos
Linha: Pesquisa Litorânea
2 X
Rainha Ginga anda de vagá,
Que o Rei do Congo não pode avoá!
Maria Tereza, um reinado de história,
Rainha Ginga jamais esquecida,
Ela fez do trono seu mundo sua vida,
Raízes plantadas em nossa memória!
É um povo dançando, rufando tambor,
Num ritual, em sua congada,
Manifestação com fé e amor,
Devoção à Rainha que foi coroada!
2 X
Rainha Ginga anda de vagá,
Que o Rei do Congo não pode avoá!
Eles vão cantando pela rua afora,
dançantes que a todos encantam,
É a liberdade que neles aflora,
mostrando a fé nas quadrinhas que cantam!
Massacaias no ritmo maçambiqueiro,
Alegorias com sua beleza,
Ressoam na alma de um povo guerreiro,
Saudando a rainha Maria Tereza!
2 X
Rainha Ginga anda de vagá
Que o Rei do Congo não pode avoá
O negro, de vermelho e branco, cultua sua dança,
Pra que sua crença se multiplique,
É festa de um povo que canta e não cansa,
É o rufar dos tambores de maçambique!
Obs.: Maria Tereza foi uma das mais conhecidas rainhas dos maçambiques de Osório. Faleceu com mais de cem anos de idade.
09 – COM OS PÉS NO CHÃO
Letra: Mauro Marques
Melodia: Dado Jaeger
Intérprete: Maria Helena Anversa
Linha: Riograndense
Então estou aqui, assim, de novo.
Sou parte dessa espera de um talvez,
querendo desvendar os meus segredos,
que vão surgir dos medos, outra vez.
Será por teimosia ou por loucura?
Quem sabe, apenas, coisas de mulher?
Quem sabe é o resultado da amargura
da vida, que é tão dura quando quer.
E aqui estou de novo, feito tola,
no desconsolo de outra falsidade.
Mas quero ser feliz, muito feliz…
bem mais feliz do que a felicidade.
E eu sei que a dor não perde a validade…
e sei também que ainda ela me quer.
Conheço muito bem sua verdade…
não vou tratá-la feito uma qualquer.
E a vida? A vida é ave de rapina.
Não cabe a mim buscar o seu sentido,
pois cada um já sabe a sua sina:
jamais cobrar-lhe o que não for devido.
10 – A MEMÓRIA DAS MÃOS
Letra: Telmo Vasconcelos
Melodia: Eduardo Monteiro Silva
Intérprete: Léo Almeida
Linha: Pesquisa Litorânea
Eu tenho a dança dos peixes
Na memória das minhas mãos
Os dedos riscados de redes
Nas manhas da embarcação
Lida puxada na areia
São marcas de água e magia
Persigo a luz das sereias
Faróis das noites sombrias
Me fiz guri canoeiro
Nos braços de Iemanjá
Saltando no nevoeiro
Curtido no sol da proa
Os meus brinquedos pescados
Vieram sempre no arrastão
Iscas e remos perdidos
Na safra do camarão
Na profissão de pesqueiro
A vida é feita na aguada
Ao vento de quem se larga
O pampa é a lagoa encantada
Canoa vem balanceando
Do peso da pescaria
Tainhas, bagres, corvinas
São frutos de todo dia
Na lagoa vou buscar
Fisgar o teu coração
Trago conchinhas e estrelas
E o brilho da lua cheia
No espelho dessa paixão
Primeira canção praieira
Que tem os resquícios do mar
Um mundo de água doce
Nos sonhos de navegar
Tambor de nega batendo
Jorge – Ogum na garantia
Quem parte leva esperança
Quem volta trás alegria
11 – GAIVOTAS
Letra: Olgi Zauza Crejci
Melodia: Piero Ereno
Intérprete: Juliana Spanevello e Piero Ereno
Linha: Riograndense
Duas gaivotas pequenas
buscam tatuíras na areia,
matam nativos anseios,
no doce afã de pescar.
É tão lindo nesta vida
fazer o que o peito sente,
como nós antigamente
correndo à beira do mar…
As gaivotas já se foram
feito aves de arribação,
mas um dia voltarão
revoando no azul do céu.
Voltes também para mim,
refazer meu paraíso,
devolver o meu sorriso
e os beijos que foram meus;
O tempo cruza ligeiro,
e é tão pequeno o meu sonho;
ver o teu olhar risonho
de arrebol em arrebol.
Curtir as ondas do mar,
bronzear numa brisa amena
os nossos rostos morenos
nos mesmos raios de sol.
Que importa os cabelos brancos
e as rugas de nossas mãos,
se toda a minha ilusão
é tornar, vê-la sorrir…
Vamos passear pela praia
andando devagarzinho
porque os nossos castelinhos
já não sei mais construir.
12 – JUREMA E JUREMAR
Letra: Caio Martinez
Melodia: Adriano e Cristian Sperandir
Intérpretes: Adriana Sperandir e Caio Martinez
Linha: Pesquisa Litorânea
Jurema, moça brejeira
Da praia de São Simão
Casou-se com Juremar
Foi morar em Solidão.
Sua foi tão certeira
Com o nome do lugar
Pesqueiro ficava longe
Difícil de acostumar.
Jurema fazia tudo
De tudo pra não chorar
Rezava pro seu amado
Não dar linha pro azar.
Um dia enredou a rede
Jurema ficou sem par
Afundou feito uma pedra
Ninguém o pode encontrar.
A lágrima de Jurema
Não deixa a maré baixar
Quanto mais o tempo passa
Mais Jurema quer chorar
Iemanjá traga de volta
O pescador Juremar
Se não secar esse pranto
O mundo vai inundar
Jurema fica na areia
Contando as ondas do mar
à espera de uma garrafa
com carta de Juremar.
Depois de passados anos
Nunca parou de contar
Endoideceu pela praia
Sem a garrafa encontrar.
Dizem que a moça bonita
Rogou praga contra o mar
Vai e vem por toda a barra
Chorando de soluçar.
E o povo teme o feitiço
Reza pelo Juremar
Temendo que o mundo acabe
Se o pescador não voltar.