Variedades

Ele escolheu ser artista plástico para fugir do preconceito

As pessoas, o que elas vestem, os artistas da TV, a música e as cores do mundo inspiram o artista plástico Lúcio Piantino. Ele tem 17 anos e aos 13 pintou O Verdadeiro Amor, seu primeiro quadro. A arte acompanhou Lúcio desde sempre. Filho e neto de artistas plásticos, cresceu entre telas, tintas, pincéis e esquadros. Mas ele só tomou a decisão de pintar depois que resolveu deixar a escola, cansado de sofrer com o preconceito por ter síndrome de Down.

Graças à batalha da mãe de Lúcio, Lurdinha Danezy, de 54 anos, e à quebra de barreiras, hoje o artista está com sua vida profissional estabilizada e começa a levar seu trabalho para o exterior. Em média, uma obra do pintor está avaliada em R$ 1 mil, o metro quadrado. A vida do garoto também virou um documentário, lançado este mês em Brasília: De Arteiro a Artista, conta a saga de Lúcio Piantino.

Depois daquele primeiro quadro, vieram muitos outros. Com quatro anos de carreira, Lúcio Piantino já fez seis exposições individuais e acabou de fechar um contrato com uma empresa americana, que vai replicar suas obras e vender no exterior. Mesmo sem ter se inspirado em grandes artistas, especialistas em arte dizem que a obra de Lúcio lembra os traços do norte americano Jackson Pollock, dos espanhóis Antoni Tápies e Pablo Picasso e do brasileiro Amilcar de Castro.

Garoto de sorriso fácil, ele cria suas obras ouvindo funk, axé, hip-hop. Disse que gosta de homenagear as pessoas com seus quadros. “Eu vejo a cor da pele, a cor da boca, a cor da calça e jogo aquelas cores nos meus quadros. É uma homenagem abstrata”. E a arte, hoje é a vida de Lúcio, o carinho que ele tem pelos seus quadros é um amor familiar. “Meus quadros são meus filhos, e as tintas são o alimento que dou para eles”.

O desenvolvimento de Lúcio como artista só foi possível por causa do esforço de sua mãe, que abriu mão da carreira de professora e do concurso público no qual tinha sido aprovada, para dar a atenção que o filho precisava. Desde a gravidez, Lurdinha evitava os médicos que diziam que seu filho seria deficiente.

Para ela, é o mundo que faz com que a pessoa se torne deficiente “Acredito muito que a pessoa com a síndrome de Down não nasce com deficiência, ela fica deficiente dependendo da forma com que a educação dela é conduzida”.

Para ajudar no desenvolvimento de Lúcio, Lurdinha sempre o estimulou, mas viu que era preciso um pouco mais para dar às crianças com síndrome de Down um crescimento com mais oportunidades.

Resolveu então, em conjunto com outras mães, criar a Associação Mães em Movimento, que trabalha para a criação e a implantação de políticas públicas para essas pessoas. Para Lurdinha, a luta dessas mães e pais, tem o seu valor “Toda a legislação [criada até agora] você pode ter certeza de que tem o dedo de um pai, ou de um grupo de pais”.

Mas o preconceito ainda é uma das principais dificuldades”, diz a mãe de Lúcio, que mais uma vez teve que tirar o seu filho da escola por estar cansada de lidar com o preconceito e com a falta de preparo de profissionais. “É muito difícil se olhar pra uma pessoa com deficiência só como pessoa, primeiro vem a síndrome, para depois se olhar para a pessoa, se é que se olha para a pessoa”.

Mas a mãe reconhece que há avanços. Pessoas com síndrome de Down vêm sendo inseridas na sociedade e têm recebido reconhecimento. “Está mudando porque existe um investimento muito grande das famílias no desenvolvimento dessas crianças, não só por uma legislação, mas por uma consciência de que a síndrome de Down é uma diferenciação genética e não uma deficiência”.

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