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Elio Gaspari errou feio

“A morte do torturado por descuido do torturador” é um texto do jornalista Elio Gaspari:

O aparelho policial do governo, que fora eficiente na desarticulação dos planos insurrecionais de Brizola, tateara a guerrilha, mas não conseguira apanhá-la. No caminho, praticou o mais escandaloso assassinato do Governo Castello Branco.
Em março de 1966 a polícia gaúcha prendeu o ex-sargento Manoel Raimundo Soares, um ativo brizolista, subcomandante de um futuro foco guerrilheiro no Rio Grande. Os registros indicam que estivera na Delegacia de Ordem Política e Social. Fora transferido para o presídio do rio Guaíba, e repassado a agentes do DOPS no dia 13 de agosto de 1966.

Na manhã do dia 24 seu corpo, com as mãos amarradas, foi achado boiando no rio Jacuí. Um mês antes de ser assassinado, escrevera uma carta denunciando as torturas por que passara na 6ª Companhia de Polícia do Exército e no DOPS: “Ouvi dizer no DOPS que eu fui o detido mais tratado até hoje, dos que por lá passaram. Que mais posso temer? Temor servil, pois, não tenho. Ainda não foi necessário demonstrar que não temo nem a morte. Talvez, em breve, isto venha a acontecer. O tempo dirá”.

O Caso das Mãos Amarradas, como se tornou conhecido o assassínio do ex-sargento, diferia de todos os anteriores. Não cabia nas versões habituais de suicídio ou reação violenta à prisão. Abriram-se simultaneamente uma investigação policial e uma comissão parlamentar de inquérito na Assembléia Estadual.

Foram arrolados 21 nomes, que incluíam desde carcereiros até um tenente-coronel. Nos 20 anos seguintes conseguiu-se reconstituir parcialmente o que lhe sucedera.

Retirando-o à noite do DOPS durante uma sessão de tortura, dois policiais levaram-no para o rio, onde lhe deram caldos, até que o perderam na água. Amarrado, Manoel Raimundo afogou-se.

Acontecera um dos primeiros casos daquilo que mais tarde se denominaria “acidente de trabalho”, ou seja, a morte do torturado por descuido do torturador.

Nervosos, os dois policiais chegaram a procurar por ele no Instituto Médico Legal quatro dias antes de as águas devolverem o corpo. Apesar de todas as provas de que o ex-sargento estava preso e de todas as indicações a respeito do modo como fora assassinado, impôs-se a tese segundo a qual ele fora libertado e, provavelmente, morto por correligionários.

A versão oficial prevaleceu em todas as instâncias, até o Superior Tribunal Militar. O aparelho de repressão dera mais uma volta no parafuso que, a cada giro, amparava uma nova forma de crime sob a regra da impunidade.

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O artigo é um trecho do livro “A Ditadura Envergonhada” (Companhia das Letras, 2002), primeiro volume da premiada série de livros que o jornalista Elio Gaspari escreveu sobre a construção e o desmanche da ditadura brasileira. Os outros volumes são: “A Ditadura Escancarada” (segundo volume), “A Ditadura Derrotada” (terceiro volume) e “A Ditadura Encurralada” (quarto volume).

Fonte: www.espacovital.com.br
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Observo: A descrição acima não procede, pois ele foi liberado pelo DOPS  ao anoitecer de 13 de agosto e apanhado logo depois por um Renault Gordini na avenida João Pessoa. Quanto ao assassinato nada sei, mas não foi o descrito, assim como não envolveu policias civis. Cobrem do Exército (DOI/CODI).

Até a próxima se Deus assim o permitir.

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