Em busca da beleza perdida

Em que pese a podridão e o mau cheiro do excremento exalado, sobretudo na última década, pelo Palácio do Planalto e pelo Congresso Nacional, oriundos das entranhas da horda de canalhas que, ad perpetum lá se estabeleceu, agora – pasmem! – com direito, cada qual, às benesses da instalação, ao custo milionário de banheiras de hidromassagem (que nós, os bobos alegres, compulsórios contribuintes das burras da viúva, iremos também pagar a conta), o Brasil, pouco a pouco, saiu dos vergonhosos primeiros lugares no índice de miserabilidade.

A Classe “C” conquistou seu espaço e passou a ser fundamental para a maior produção dos bens de consumo. A Classe “A” ficou inflacionada de noveaux riches, ou seja, os “emergentes” oriundos não somente da classe “B”, como, alguns poucos, até, da “C”.

Hão de me perguntar os generosos leitores: por que comento sobre este assunto? Como sempre, conto-lhes uma história, afinal, é o diletantismo deste que se arvora como escriba.

Quando morava em Porto Alegre, fiz parte, desde os meus cinco anos, de um grupo que residia nas proximidades da primeira quadra da Rua José do Patrocínio. Contávamos, entre meninos e garotas, aproximadamente trinta. Alguns se enturmaram ainda na infância, outros quando adolescentes. Éramos camaradas de jogos, parceiros das reuniões dançantes e dos bailinhos, ao som do toca disco movido a pilha. Éramos, sobretudo, incondicionais e leais amigos.

A escolha profissional, o alvorecer das paixões e os casamentos fizeram, naturalmente, com que cada um seguisse diferentes caminhos. Alguns se perderam por estradas vicinais, sete já não mais se encontram neste plano, poucos residem em outras cidades ou Estados. No entanto, as saudades daquelas vivências (que cartão de crédito ou saldo bancário algum sequer pode comprar) explodiam no peito de todos. Mesmo passados mais de trinta anos, esses sentimentos ficaram inequivocamente provados, quando combinamos o primeiro reencontro desses tão caros amigos. Nem todos, por óbvio, compareceram.

Reservamos a ala de um restaurante onde, de forma tímida, hesitante e, digo mais, insegura, até, cada qual lá ia se achegando. Afinal, as dúvidas invadiam nossos corações: Como estaríamos? Como nos receberíamos? As naturais “rivalidades” dos verdes anos ainda se fariam presentes? Sempre há o lado cômico da situação, o que ameniza as tensões: cada recém-chegado que entrasse no espaço reservado acomodava os óculos sobre o nariz de forma que a lente não o levasse a enganos. Mas não! Estávamos, é claro, com trinta anos a mais em nossa história de vida. Crescidos, maduros, sofridos, não obstante bonitos! Sim, estávamos todos mais bonitos! E nossa beleza residia não em nossos rostos curiosos, sobretudo na alma. Abraçávamo-nos, emotivos, claro, e, os baús das remembranças foram abertos. Sequer alguém exibiu seu saldo bancário, contabilizou o patrimônio conquistado, gabou-se das vitórias, ou questionou as eventuais e passageiras derrotas do outro camarada. Segredos de paixões não confessadas foram revelados. Era a nossa redescoberta! E saímos deste reencontro, indistintamente, nos sentindo os seres mais ricos de todo o universo.

Com a chegada dos emergentes ao “paraíso”, o que se percebe são as relações hipócritas, frívolas e contabilizadas somente no “ter”. As emergentes, as socialites, quando na companhia de outras emergentes (porque pelas costas o que falam mal uma das outras, é de deixar frade franciscano de cabelo em pé!), juram de pés juntos que jamais mantiveram laços de amizades ou sequer conhecem o Fulano e a Cicrana, pois, assim elas, as emergentes, dizem “Eles são muito pobres, filha ou filho meus jamais namorariam com os deles”.

A pauta do assunto do fim de tarde, no “répiau” regado a espumante, após exibirem a féria do dia, é “esfregarem” no focinho dos “amigos” que, após a encomenda, o Mercedes-Benz SLS AMG 6.2 V8, de  US$ 490.900,00, ou o CLS 63 AMG 6.2 V8,  de US$ 309.900,00, estão por chegar, ou a viagem a Miami (pois lá, segundo os emergentes, “E um verdadeiro berço cultural”) já está comprada.

O pilequinho é tão grande que a inveja de uma ou de outra nem transparece nas fisionomias “emborrachadas”.

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