E no teu cansaço, esse cara seria o teu cavalo, a tua rede, o teu berço; braços que embalariam teus sonhos, o rio de águas límpidas que saciaria tua sede, a cabana que te abrigaria dos ventos.
Esse cara que, na noite escura ouviu teu chamado, correu às cegas para te apaziguar, sem se importar com a dor resultante do choque da cabeça contra o batente da porta, foi teu parceiro na primeira viagem de avião, na primeira ida ao circo, ao teatro à Feira do Livro; ao primeiro Grenal, no primeiro mergulho nas águas do oceano, na viagem a Buenos Aires para curtirmos os Rolling Stones.
Esse cara que sempre te ouviu – falou demais, outras tantas –, respeitou e compartilhou em silêncio teus primeiros sofreres, vibrou com tuas conquistas e compreendeu que os teus voos, dali para diante, seriam solos. Esse cara que, mesmo assim, telefona para te desejar um bom dia de trabalho, para perguntar qualquer bobagem – mas, no íntimo, é para ouvir tua voz e amenizar saudades –, hoje está feliz na tua felicidade, nas tuas decisões, nas tuas escolhas, no teu crescimento como ser humano. Mesmo assim, esse cara, diariamente, em todos os momentos em que o telefone toca, anseia que, desta vez, sejas tu a perguntar como está o tempo, o que tenho feito, se continuo escrevendo, se estou fazendo minhas caminhadas, se perdi peso ou me convidando para assistirmos ao show do Elton John.
Esse cara, com todas as suas imperfeições, com todas as carências, esse cara também sou eu…