Gastar as solas dos sapatos – Dom Jaime Pedro Kohl

Dom Jaime Pedro Kohl

Gastar as solas dos sapatos

Certamente, em cada um de nós, essa expressão, surge no nosso imaginário um leque de sentimentos, pensamentos, recordações. A lembrança daqueles sapatos que custamos largar de mão porque, embora velhos, eram confortáveis e os usamos até não dar mais.

O papa Francisco, por ocasião da sua mensagem para 55º Dia Mundial das Comunicações Sociais, celebrado na Solenidade da Ascenção, em 16 de maio, – onde Jesus antes de partir definitivamente para junto do Pai ordena aos seus: “Vão e anunciem o Evangelho a toda a criatura” – que tem como tema: “Vem e verás, comunicar encontrando as pessoas onde estão e como são”, manifesta o modo como gostaria que fosse todo trabalho jornalístico no mundo: “é necessário sair da presunção cômoda do ‘já sabido’ e mover-se, ir ver, estar com as pessoas, ouvi-las, recolher as sugestões da realidade, que nunca deixará de nos surpreender em alguns dos seus aspectos”.

Para reforçar esse pensamento traz o conselho do Bem-aventurado Manuel Lozano Garrido aos seus colegas jornalista: “Abre, maravilhado, os olhos ao que vires e deixa as tuas mãos cumular-se do vigor da seiva, de tal modo que os outros possam, ao ler-te, tocar com as mãos o milagre palpitante da vida”.

Esse ‘ir e ver’ como disposição para toda forma comunicativa, foi o método de Jesus que continua muito útil, ainda hoje, para comunicar a boa notícia do evangelho, mas também para denunciar as injustiças presentes no mundo.

“Todo instrumento (de comunicação) só é útil e válido, se nos impele a ir e ver coisas que do contrário não chegaríamos a saber, se coloca em rede de conhecimentos que de contrário não circulariam, se consente encontros que de contrário não teriam lugar”.

“O método ‘vem e verás’ é o mais simples para conhecer uma realidade; é a verificação mais honesta de qualquer anuncio, porque, para conhecer, é preciso encontrar, permitir à pessoa que tenho a minha frente que me fale, deixar que o seu testemunho chegue até mim”.

Depois de falar das oportunidades e insídias na Web, é categórico no afirmar que “na comunicação, nada pode jamais substituir, de todo, o ver pessoalmente. Algumas coisas só se podem aprender experimentando-as. Na verdade, não se comunica só com as palavras, mas também com os olhos, o tom de voz, os gestos. O intenso fascínio de Jesus sobre quem O encontrava dependia da verdade da sua pregação, mas a eficácia daquilo que dizia era inseparável do seu olhar, das usas atitudes e até de seus silêncios”.

A boa nova do Evangelho difundiu-se pelo mundo, graças a encontros pessoa a pessoa, coração a coração: homens e mulheres que aceitaram o mesmo convite feito aos discípulos: ‘vem e verás’. O desafio que nos espera é o de comunicar, encontrando as pessoas onde estão e como são. Não como nós gostaríamos que fossem. Para isso precisamos sair, ir ao encontro, gastar as solas dos sapatos.

Para refletir: Sinto-me responsável por aquilo que comunico e passo adiante? Tenho consciência que toda informação tem repercussão na vida das pessoas e da sociedade? Consigo ir ao encontro das pessoas onde se encontram e aceitá-las como são? Passando a pandemia, que método de evangelização/comunicação vamos priorizar?

Textos bíblicos: Ef 1,17-23 ou 4, 1-13; Mc 16, 15-20; Sl 46(47).

Dom Jaime Pedro Kohl – Bispo de Osório

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