Hiperinflação – Por Jayme José de Oliveira

Jayme José de Oliveira
Jayme José de Oliveira
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– Você tocava “ragtime?” – Perguntou Wally surpreso – nunca ouvi você tocar nada a não ser música clássica.

– Foi o “ragtime” que não nos deixou morrer de fome quando sua mãe era bebê. Depois da Primeira Guerra eu toquei numa boate chamada Nachtleben, aqui mesmo em Berlim. Recebia bilhões de marcos por noite, o que mal dava para comprar pão, mas às vezes eu ganhava gorjetas em moeda estrangeira e com dois dólares dava para viver bem uma semana inteira. (Maud von Ulrich, avó de Wally).

Escolhi este trecho do livro “Eternidade por um fio” de Ken Follet. É o último da “Trilogia do Século” que abrange a história do mundo desde antes da Primeira Guerra Mundial até os episódios da Guerra Fria. São quase 3.ooo páginas de uma leitura romanceada, mas que obedece A História Mundial e os fatos do dia a dia vividos por 5 famílias de diversas nacionalidades, envolvidas nos conflitos.

Quando Maud se refere aos bilhões de marcos estava se reportando à realidade da época. A hiperinflação que arrasou a economia da Alemanha pós Primeira Guerra Mundial. Um carrinho de mão cheio de marcos valia menos que uma cédula de 20 dólares.

Porquê essas reminiscências? Porque a grande maioria dos brasileiros não conhece ou já esqueceu como era a vida no período inflacionário, até 1.994. Os supermercados remarcavam os preços pela manhã e de tarde. Quem vivia de salários ia rapidamente realizar as compras de alimentos para o mês inteiro antes que a desvalorização da moeda corroída fizesse o salário acabar antes do mês. Nesse caso, a solução seria restringir a alimentação ao mínimo esquecendo a carne, frutas, legumes e até, por vezes, o leite. Profissionais liberais e todos que trabalhavam por empreitada ou diaristas depositavam diariamente seus ganhos no overnight, única maneira de defender, precariamente, o valor do ganha-pão.

Porquê essas lembranças no momento? Porque, se não for contida a espiral inflacionária que ameaça ressurgir, os 1.993% da inflação anual, abatida pelo Plano Real, voltará a nos assombrar. E, convenhamos, outro Plano Real dificilmente repetirá a façanha de domar o dragão inflacionário.

Os ricos sempre descobrem meios para navegar em mares revoltos, os governos até se beneficiam postergando – pedalando se diz atualmente – pagamentos. Pagam com dinheiro desvalorizado contas atrasadas oportunisticamente.

NÃO CREIAM NA FALÁCIA DE QUE UM POUCO DE INFLAÇÃO ESTIMULA A ECONOMIA. DESORGANIZA A VIDA FINANCEIRA, PRINCIPALMENTE DOS POBRES.

Jayme José de Oliveira – cdjaymejo@gmail.com

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