Imortalidade II – Por Jayme José de Oliveira

Jayme José de OliveiraASSIM CAMINHA A HUMANIDADE – XVII

A espécie humana já prolongou sua vida média para 82 anos na atualidade, era de 30 no tempo do Império Romano. Com os progressos da medicina, genética e estilo de vida, até onde podemos expandir esse limite?

Para facilitar o entendimento duma pesquisa em desenvolvimento recorro a um exemplo de como, mudando um processo podemos extrapolar os resultados.

Em meados do século XX era de uso corrente, principalmente em escolas, o uso de mimeógrafos à base de álcool. Numa matriz stêncil se datilografava um texto que num mimeógrafo ativado a álcool permitia a obtenção de 30-50 cópias. As primeiras saiam bem legíveis, mas, quanto mais cópias se tirava, menor a nitidez. Algo parecido ocorre com as nossas células, as jovens são viçosas, basta olhar um ancião para se perceber a degenerescência. A invenção das fotocopiadoras, vulgarmente conhecidas como “xerox”, permite que se obtenha um número infinito de cópias idênticas. Busca-se algo semelhante para a replicação de células.

TELÔMEROS

Os telômeros  são estruturas constituídas por fileiras repetitivas de proteínas e DNA  que formam as extremidades dos cromossomos. Sua principal função é manter a estabilidade estrutural do cromossoma. Cada vez que a célula se divide, os telômeros são ligeiramente encurtados. Como estes não se regeneram, chega a um ponto em que não permitem mais a correta replicação dos cromossomos e a célula perde completa ou parcialmente a sua capacidade de divisão. Como o processo de renovação celular não tolera a divisão incorreta das mesmas, o organismo tende a morrer num curto prazo de tempo, no momento em que seus telômeros se esgotam.

Os telômeros funcionam como um protetor para os cromossomas, assegurando que a informação genética (DNA) seja perfeitamente copiada quando a célula se duplica, foram identificados pela primeira vez por Hermann Joseph Muller, na década de 30 do século XX.

Os telômeros são sintetizados no final da replicação do DNA pela enzima telomerase.

Telômero como relógio biológico.

Toda vez que a célula se duplica ela também duplica os cromossomas. Este processo, como já mencionado, encurta os telômeros das células, portanto, teoricamente pode-se definir com exatidão a expectativa de vida de um ser vivo analisando quantos telômeros ainda restam em suas células, ou seja, quantas vezes as células ainda poderão se duplicar antes do indivíduo morrer. Assim, os telômeros podem ser considerados sofisticados relógios biológicos.

Sabe-se que existe uma relação entre os telômeros e a senescência celular, mas ainda não se sabe exatamente que relação é essa, é bastante provável que prevenir o encurtamento dos mesmos seja uma das chaves para a superlongevidade.

Telômeros 1 Telômeros 2 Telômeros 3 Telômeros 4TELOMERASE

Telomerase é uma enzima descoberta por Elizabeth Blackburn e Carol Greider em 1.985, que tem como função adicionar sequências específicas e repetitivas de DNA à extremidade dos cromossomos, onde se encontra o telômero. Estudos recentes sugerem ser possível reverter o processo de senescência celular incrementando, de forma artificial, a quantidade de telomerase nas células uma vez que ela é essencial para a manutenção do tamanho dos telômeros. A telomerase normalmente só é ativada nas células germinativas – óvulos e espermatozoides – e nas células-tronco, mantendo-se “silenciosa” nos outros casos. Em células sadias os telômeros encurtam em cada geração, levando ao envelhecimento natural.

Nas células cancerosas, a telomerase é reativada espontaneamente, mantendo o tamanho dos telômeros e permitindo a proliferação indefinida e caótica destas células, ou seja, iniciando um processo de câncer suas células tornam-se imortais.

Temos diante de nós duas alternativas:

  1. Como a telomerase é indispensável para a divisão celular, se conseguirmos um processo que permita neutralizá-la, poderemos paralisar o desenvolvimento das células cancerosas e, com isso, chegarmos à cura do tumor.
  2. Pelo mesmo raciocínio, se estimularmos a formação de telomerase nas células normais, propiciaremos a elas se replicarem, aumentando seu ciclo vital. Nesse sentido, em 1.988 a Gerson Corporation começou a desenvolver técnicas e drogas para estender os telômeros.

Em muitos procedimentos terapêuticos substâncias tanto podem proporcionar a cura como a morte do paciente. Depende da dosagem e do emprego adequado.

Na próxima coluna abordaremos o emprego de células imortais oriundas dum tumor maligno que, infelizmente causou o óbito da paciente e, desde então são utilizadas em experimentos na busca de soluções que de outra maneira seriam impossíveis ou, ao menos, dificultadas ao extremo.

Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado

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