Inteligência artificial 1 – Jayme José de Oliveira

Jayme José de Oliveira

“E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito uma alma vivente”. (Gênesis 2:7)

Criada a vida, é imemorial a procura de uma maneira de prolonga-la. Matusalém foi o primeiro, um personagem bíblico do Antigo Testamento, afirma-se que teve a maior longevidade: 969 anos. Ponce de Leon, na segunda viagem de Colombo à América procurou a “Fonte da Juventude”, quem bebesse de sua água viveria eternamente.

Em 2009, Elizabeth Blackburn, Carol Greider e Jacob W. Szostak receberam o Prêmio Nobel de Medicina por terem descoberto o mecanismo central do funcionamento genético das células que abriu o caminho para novas linhas de pesquisa, inclusive para o tratamento do câncer e retardar o envelhecimento das células.

A fonte da juventude saindo das lendas e penetrando no mundo real. Para termo de comparação, representa a diferença existente no uso de um mimeógrafo (20-30 cópias legíveis) e do XEROX (número ilimitado de cópias idênticas). Os TELÔMEROS, regenerados por uma enzima, aTELOMERASE, permitirão a reprodução – teoricamente infinita –  das células. A “Fonte da Juventude” de Ponce de Leon na fímbria do horizonte.

Como todas as descobertas, seu potencial de uso não se pode prever, nem o tempo para se consumar. “Até uma jornada de mil milhas começa com um pequeno passo” (provérbio japonês).

Passados séculos de expetativa, com o avanço da tecnologia, estamos no limiar de concretizar o sonho. Com a manipulação dos genes exercendo o domínio dos TELÔMEROS podemos, inicialmente, duplicar o período da vida (isso nas próximas décadas) e, teoricamente, realizar o sonho de Ponce de Leon, a imortalidade.

Desafios? Inúmeros. O Alzheimer terá de ser afastado da cena, de nada valerá uma vida estendida sem dominância cerebral. As religiões e a moral vigente se opõem, intransigentemente, ao controle da natalidade. Casais idem, ter filhos é um dos anseios mais arraigados.

Isso no sentido mais imediato, possível de contornar – demandará um tempo impossível de precisar – e criar uma maneira totalmente nova de encarar a vida e seu decurso. Entraves jurídicos, como compatibilizar a aposentadoria com vida prolongada? De onde provirão os recursos para sustenta-la, considerando as dificuldades logísticas e políticas em prolongar – e quanto – o período laboral?   Emigração para outros planetas, uma solução ideal, porém, para um futuro remoto. Remotíssimo.

Os cérebros mais brilhantes, criativos, desbravadores do mundo, incluindo Isaac Asimov, Stephen Hawking, Bill Gates, Steve Jobs e muitos outros “queimaram as pestanas” para abrir caminho no labirinto, mais intrincado que o de Creta (onde Teseu venceu o Minotauro e conseguiu sair seguindo o “fio de Ariadne” que desenrolara no trajeto de ida). O problema é que não temos um “fio de Ariadne” para nos servir de guia, o processo será um desafio a ser deslindado durante o avanço, passo a passo, sem visão além do horizonte.

Filmes de ficção científica enveredaram por um atalho no qual robôs, ao lhes ser inserida a Inteligência Artificial (IA), dominam o planeta Terra e relegam os humanos a um papel secundário, em declínio progressivo até a extinção. O homo sapiens substituído pelo homo robótico. Entre as alegações para buscarmos a eternidade, viagens interestelares exigem um período de vida incompatível com a nossa espécie.

Cientistas escritores, como Isaac Asimov, Carl Sagan e outros, discordam frontalmente e apontam diversas saídas, instalar nos robôs inteligentes um freio que os impeça, estruturalmente, de provocar o epílogo catastrófico para os humanos, seus criadores.

Exemplifico com as regras da robótica, criada por Asimov, escritor e bioquímico que escreveu mais de 500 obras em sua vida e, na área da robótica, acertou na maioria das previsões a respeito das tecnologias que dispomos hoje. São dele as “leis da robótica” que poderão evitar o catastrofismo dos pessimistas.

Na construção dos robôs seriam implantadas as leis reguladoras:

1. Um robô não pode ferir um ser humano ou, por inação, permitir que um ser humano seja ferido.

2. Um robô deve obedecer ordens dadas por seres humanos, exceto nos casos em que tais ordens entrem em conflito com a Primeira Lei.

3. Um robô deve proteger a sua própria existência, desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira ou com a Segunda Lei.

Algum tempo depois Asimov criou uma Quarta Lei, a qual diz: “Um robô não pode fazer mal à humanidade e nem, por inação, permitir que ela sofra algum mal”.

O conhecimento em si não é perigoso, o mau uso dele, sim, pode ser catastrófico. Do aço podemos forjar um bisturi que salva vidas ou um punhal que assassina, depende por quem e como sejam utilizados.

Inteligência artificial 1 - Jayme José de Oliveira

Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado

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