Lambada de mercado
Mas quem nunca ouviu uma musiquinha do gênero?
Este ritmo nascido e criado no norte do país, já embalou muitas festas e foi tema de muitas alegrias, além de ser muito ensinado em salões do Brasil. Eu que não entendo nada de dança, muito menos de lambada, fui pesquisar a respeito e descobri que o sucesso do ritmo começou a acontecer com o grupo franco-brasileiro Kaoma. A música carro-chefe do ritmo não poderia ser outra “Llorando se Fue”: “Chorando se foi quem um dia só me fez chorar…Chorando estará, ao lembrar de um amor… Que um dia não soube cuidar”.
Essa é clássica, não é mesmo?
Mais engraçado é que do nada a lambada parece que ressurgiu. Digo isso não só pelo hit emplacado pela cantora americana, Jeniffer Lopez, e pelo rapper Pitbull – a música “On the Floor” em que ambos fazem uma “nova leitura” da música – mas, também, pela nossa Bolsa. Como assim? A nossa bolsa convidou os investidores para dançar uma lambada bem ritmada, de tirar o fôlego! O problema é que quando você não sabe dançar, a dança acaba sendo um problema. E nossa bolsa tem mostrado um comportamento imprevisível, volátil em que as baixas parecem dominar.
Os investidores sem entender muito bem do ritmo, ora compram assumindo uma postura otimista, ora vendem pendendo para o lado dos pessimistas. No entanto, nas últimas 2 semanas nossa bolsa engatou um momento mais fraco. Esta semana não foi diferente.
Alguns fatores pontuais e específicos explicam as quedas em determinados setores e ações de empresas. Poderia ficar aqui encontrando justificativas do motivo pelos quais as ações deste ou daquele setor não andam, mas acho mais pertinente nos voltarmos para o cenário macro. Em momentos de taxa de juros para cima (âmbito interno) o custo de capital fica mais caro, o crédito tende a se reduzir (ainda que de fato não tenha acontecido) e nossa bolsa acaba ficando menos atrativa.
É semelhante aquela menina que era a mais gata do colégio (Ibovespa) cobiçada e desejada por todos. Só que de uma hora para outra, uma outra menina que até então era muito garota, cria corpo e chama atenção de todos.
Aquela que ninguém dava nada, começa se arrumar, faz um corte diferente de cabelo, tira o aparelho e passa a ser comentada por todos. Pois bem, essa senhorita se chama Renda Fixa.
Muitos investidores tem migrado para títulos de renda fixa que protegem o capital contra a inflação e ainda dão uma boa remuneração. Isso tem atraído também o investidor estrangeiro, que vem reduzindo sua participação na bolsa, como podemos observar nos dados de fluxo estrangeiro disponibilizados pela Bovespa.
Vemos também que a economia mundial não vai lá essas coisas. Temos os velhos ricos (a Europa) tentando sair de uma situação difícil, mas com apenas uma turbina ligada, chamada Alemanha; o Japão que segue eternamente estagnado, sendo chacoalhado apenas por terremotos; os EUA que parecem um motor com gasolina adulterada, ora andam, ora engasgam e não dão sinais claros de consistência, e a China: bem, a China é um mundo a parte que segue sua toada planificada de crescimento de longo prazo. O Brasil segue muito bem, mas temos sérias deficiências.
Pois é, “Brasil mostra a tua cara”! Temos mostrado o lado ruim! Uma série de ineficiências e gargalos de infra estrutura logística, aeroportuária, de mão de obra (especialmente qualificada) entre outros. Isso associado a expansão de renda e ao bom nível de emprego gerando uma forte demanda por diversos produtos e serviços. Como resolver isso? Com incremento de produtividade e investimentos focados para continuidade desse crescimento? Na verdade, não. O jeito mais fácil é o da inflação e das importações! Enquanto isso o mundo questiona nossa capacidade de execução dos grandes eventos os quais fomos escalados. O PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) não anda o que dirá acelerar. De fato, estamos atrasados e precisamos urgentemente investir de forma produtiva.
Enquanto isso, nós que acompanhamos o mercado ficamos aqui tentando aprender esse novo ritmo…“Chorando se foi quem um dia só me fez chorar”.
Analista da XP Investimentos