Meia noite na Galeria Maya – Sergio Agra

Sergio Agra

O serviço de streaming da Netflix tem oferecido a seus assinantes significativa lista de filmes, séries e minisséries para todos os gostos. “ArrestedDevelopment”, um besteirol norte americano integra o “cardápio”, assim como os clássicos da literatura “O Amante de Lady Chatterlei” e “Madame Bovary”, os instigantes dramas de investigação criminal “As Duas Faces de um Crime” e “O Poder e a Lei”.

A minissérie “Meia-noite no Pera Palace Hotel” não foge do gênero investigação criminal, porém, com um componente que a diferencia dos acima citados: a viagem no tempo. O cenário da série é o centenário Pera Palace Hotel, de Istambul.

A premissa de “Meia-Noite no Pera Palace Hotel” é simples. Inicia-se com a vida normal da jornalista Esra(HazalKaya), que recebe a tarefa de escrever uma lista com os motivos para se hospedar no famoso Hotel. Esra descobre que a suíte 411 – onde Agatha Christie se hospedava nas diversas viagens que fizera a Istambul e ali teria escrito seu livro “Assassinato no Expresso Oriente” – era um portal para o ano de 1919.

Lançada para o passado, Esra fica no meio de uma conspiração política contra o fundador da Turquia moderna, Mustafa KemalAtaturk. Junto com Ahmet, gerente do hotel, Esra precisa proteger o curso da história e o futuro da Turquia. Mas o passado é perigoso e, ao encontrar o misterioso Halit (SelahattinPasali), dono da boate mais badalada de Istambul, ela percebe que ninguém é o que diz ser naquele ano de 1919 e que tudo parece estar fora do lugar.

Escusado dizer que ao final do primeiro episódio eu estava cismado com a suíte 411 do Pera Palace, o portal, e por onde as personagens viajam no tempo até o ano de 1919. Inquietação ao idealizar minha ida ao apartamento 94 do Condomínio Edifício Maya, em Porto Alegre, onde morei durante minha juventude, para me refugiar no quarto que fora meu e – como Esra e Ahmed que interferiram no curso da História, assegurando dias melhores para a Turquia –, mudar o curso de minha própria existência retornando ao ano de 1970 através de um portal.

Inscrever-me-ia ao Exame Vestibular para o Curso de Psicologia e Pós-Graduação EAD em Investigação Criminal e Psicologia Forense. Seria acadêmico da Faculdade de Letras e Pós-Graduado em Literatura Contemporânea. Jamais prestaria salamaleques a urubus togados que proferem não poucas vezes sentenças como se estas se assemelhassem a números de um jogo de bingo. Exerceria minha atividade profissional em clínicas das comunidades em área de vulnerabilidade e no Instituto Psiquiátrico Forense. Compartilharia o amor pela literatura não somente nos liceus, no mais ínfimo metro quadrado dignamente chamado de sala de aula. Seria imune aos conchavos, dos fuxicos e das intrigas “divulgados” na “Rádio Corredor” por “paraquedistas” que pousaram ao canetaço do “QI” (Quem Indicou).

Fui despertado pelo toque do celular. Era Guio perguntando se o filme que eu selecionara para aquela noite seria uma boa escolha.

O portal de meu quarto no apartamento 94 da Galeria Maya esvaiu-se como fumaça, agora sim, sem que me fosse dado o direito de “escolha”.

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