Na semana passada, chamaram-me atenção algumas coisas que foram sendo iluminadas pela Palavra de Deus. Impressionaram-me várias notícias de assassinatos, homens e mulheres em plena saúde, muito próximas umas das outras em termos de tempo e locais, onde não imaginava que a vida corresse tanto perigo. Os motivos principais alegados: vingança, tráfico, droga, ciúme, dinheiro. Que sensação de insegurança!
Por outro lado, tive oportunidade de aproximar vários doentes com grande vontade de viver e foram levadas por doenças que consumiram suas energias em pouco tempo.
Junto com isso vivemos a sensação de um descontrole total, cada dia com uma noticia nova de corrupção e descobertas de falcatruas. É possível pensar que o mundo está indo em direção de um precipício.
Podemos correr o risco de entrar em depressão se não formos capazes de perceber que ainda tem gente boa, muito mais do que imaginamos, só que essa não faz notícia. É como diz o provérbio: “faz mais barulho a árvore que cai do que a floresta inteira que permanece de pé”.
Também na semana passada, fiquei contente ao escutar a conversa entre o barbeiro e um senhor que não conhecia, enquanto aguardava minha vez para cortar os cabelos. O tema era mais ou menos sobre o sentido da vida, a importância de fazer o bem pelo gosto do bem, na gratuidade, e quanto ajuda a fé que a pessoa traz no coração. Até o filosofo cristão Kirchegard foi citado para dizer da importância de se entregar nos braços de Deus durante a vida para poder fazê-lo no dia de nossa partida.
Depois que ficamos sós, perguntei ao barbeiro se aquele distinto e nobre senhor – fiquei encantado com suas reflexões – é morador da cidade? O que confirmou e me confessou que pessoas assim são muitas e esses papos frequentes dos seus clientes.
Voltei para casa contente e me fez pensar que, enquanto tivermos pessoas assim o mundo não está perdido. Essa fé simples e bom coração dão esperança. Evangelizar é possível em qualquer lugar.
Confesso que me senti “Maria aos pés de Jesus”, escutando suas palavras sábias e com vontade de escutar mais dessas coisas boas que estavam sendo conversadas. Precisamos aprender a conversar sobre Deus, fé, religião, valores, vida no nosso cotidiano.
Conforme Oseias 11, 1-9: “O coração de Deus comove-se no íntimo e arde de compaixão por nós”. Uma declaração de amor assim é difícil de encontrar. Sintamo-nos olhados, queridos, amados…
Dom Jaime Pedro Kohl – Bispo de Osório – domjaimep@terra.com.br
