Meus antepassados
me lembram as velhas arvores,
Daquelas que plantadas pela natureza,
Emolduravam a imensidão da Pampa.
Angicos, Guajuviras, Espinilhos, Pitangueiras,
Cinamomos, Aroeiras, Umbus , Corticeiras
E uma infinidade de outras que não lembro ….
Todas com personalidades próprias
E com finalidades determinadas.
Nada melhor do que uma trama ou um moirão de angico,
Para tornar uma cerca centenária.
Capaz de segurar touros alçados e tropas em disparada.
As tronqueiras para atar potros aporreados
E quebrar-lhes os queixos, eram sempre de Guajuviras.
Fincados na Frente das Estâncias ou no meio das mangueiras.
Os Espinilhos, se esparramavam em longas valas,
E se incendiavam, virando brasas, para suculentos churrascos,
Que eram comidos, cortados direto no espeto com facas carneadeiras,
Longas e finas como língua de chimango…
As aroeiras, atacavam com brotoeja e com coceiras,
Aqueles que se aproximavam delas,
e não lhe cumprimentavam, por respeito!
Se era de manhã se dizia: Boa tarde dona Aroeira
Se era de tarde se dizia: Bom dia dona Aroeira.
Os ferreiros da Pampa usavam sua lenha para produzir fogo,
E o calor de suas brasas caldeava o aço com que se faziam,
Freios, ferraduras, Cruzes e adagas…!
As pitangueiras, viravam obras de artes, contra os fins de tarde,
Com suas frutas vermelhas, lindas e doces,
que se encontravam sempre perto da mão do caminhante
ou guri guloso, para matar a fome e adoçar a boca.
Os cinamomos com suas imensas sombras
Eram como casas construídas no relento….
E os umbus frondosos e copados,
Reinavam sobre o trono da imensidão
Protegidos por solidão e por silêncio.
As corticeiras brotavam,
perto de um olho d’água ou de alguma sanga.
E seus galhos caídos ao chão acabavam,sempre,
Entrando nos remansos ou corredeiras e se embalando,
Calmamente, com altivez de nautas, ao sabor das águas!
Na primavera vestiam-se de verde
E enfeitavam seus vestidos com flores
Cuja forma e cuja cor pareciam fitas vermelhas.
Tive antepassados,
Que foram Angicos,
Que foram Aroeiras,
Que foram cinamomos,
Que foram Pitangueiras,
Que foram Umbus
Que foram Espinilhos,
E alguns, que foram corticeiras….
Todos eles me deram um pouco de suas naturezas
E me encontro, às vezes, queimando sob os fogos,
Ou descansando às sombras,
Golpeando potros, e lhe quebrando os queixos,
Sendo sombra e alimento,
Ponteando tropas, ou fazendo freios, cruzes ou adagas!
Mas, o que quero mesmo, um dia,
como um velho galho de corticeira,
É me atirar na calma dos remansos,
ou me confundir, para sempre, com as águas,
no turbilhão das corredeiras, para flutuar nos rios
e para, finalmente, navegar nos mares !