Ministério Público do Trabalho no Rio Grande do Sul notifica frigorífico em Santo Antônio da Patrulha

Ministério Público do Trabalho no Rio Grande do Sul notifica frigorífico em Santo Antônio da Patrulha
Foto: Ministério Público do Trabalho no Rio Grande do Sul (MPT-RS)

O Ministério Público do Trabalho no Rio Grande do Sul (MPT-RS) entregou nesta quinta-feira (29/6) notificação recomendatória ao frigorífico Boa Esperança Agroindústria Ltda., localizado em Santo Antônio da Patrulha. O documento contém 13 itens, com diversas providências que devem ser tomadas de imediato pela empresa para a regularização do meio ambiente de trabalho.

A notificação concentra o resultado de dois dias de inspeção na fábrica, realizada entre esta terça e quarta-feira (28/6), pelos órgãos integrantes da força-tarefa estadual dos frigoríficos. Com a notificação, foram concedidos prazos de 30 a 90 dias para a resolução dos problemas constatados. Inquérito civil deve ser instaurado e distribuído a procurador de Porto Alegre para acompanhamento da regularização e recebimento dos relatórios completos dos órgãos parceiros.  É a 44ª operação da FT, coordenada pelo MPT.

Clique aqui para acessar à íntegra das situações a serem adequadas e seus prazos.

De acordo com o procurador do Trabalho Ricardo Garcia, coordenador da força-tarefa, “a fábrica é desprovida de Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) e o Serviço Especializado em Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT), terceirizado, não funciona. Consequentemente, nada funciona em saúde e segurança. O de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) e o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) são tão genéricos que poderiam ser aplicados a qualquer empresa, com o mesmo resultado nulo. Está tudo por fazer, inclusive no que diz respeito à organização do trabalho, que possibilita o surgimento de assedio moral. Será uma árdua caminhada”.

Integrantes

A operação teve apoio técnico da Fundação Jorge Duprat Figueiredo, de Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro), vinculada ao Ministério do Trabalho (MT), do Centro Regional de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest) Serra e da Unidade Regional de Referência em Saúde do Trabalhador (Urest) de Gravataí, além do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado (CREA-RS). O grupo foi apoiado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação e Afins (CNTA Afins). O movimento sindical dos trabalhadores também participou com a Federação dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação do Rio Grande do Sul (FTIA/RS) e com o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação de Santo Antônio da Patrulha(STIALSAP).

A ação teve participação de 13 integrantes. Pelo MPT, participou o procurador do Trabalho Ricardo Garcia, coordenador da força-tarefa. Pela Fundacentro, a tecnologista Maria Muccillo (lotada em Porto Alegre), representante da bancada do governo na Comissão Nacional Tripartite Temática (CNTT) da NR-36, voltada ao setor frigorífico. Pelo Cerest Serra, a fisioterapeuta do Trabalho Ida Marisa Straus Dri. Pelo CREA, a supervisora de fiscalização da Serra/Sinos Alessandra Maria Borges, o chefe do setor de Planejamento e Controle, engenheiro mecânico Gelson Luis Frare, e os agentes fiscais Alceu Dariva Maggi (inspetoria de Tramandaí) e João Cláudio Dalpiaz(inspetoria de Capão da Canoa). Participou, também, a fisioterapeuta e especialista em ergonomia Carine Taís Guagnini Benedet (de Caxias do Sul), que presta serviço para a CNTA Afins. A ação foi acompanhada, ainda, pela presidente do STIALSAP, Marlene Gularte, e pelo secretário-geral da FTIA/RS, Dori Nei Scortegagna. No primeiro dia de inspeção, participaram também o técnico de segurança do Trabalho Ben Hur Monson Chamorra e o fiscal sanitário Glediston J. D. Perottoni, do Cerest Serra; e os médicos do Trabalho Fábio Ruschel e Camila Valer Pereira, da Urest de Gravataí.

O grupamento operacional reuniu-se, no início da noite de segunda-feira (26/6), para ultimar detalhes da operação. A ação começou às 8h do dia seguinte, quando o grupo chegou de surpresa à planta, na rodovia estadual RS 030, km 44. A fábrica tem 72 empregados e capacidade de abate diário de 30 animais. O turno único de trabalho é das 7:30 às 17:18, com pausas de almoço e de descanso de 20 minutos. Durante a operação, foi apenas inspecionada a descarga de peças congeladas, já que os abates são esporádicos.

Também visitou a planta o procurador do Trabalho Luiz Alessandro Machado (MPT em Porto Alegre), responsável por inquérito civil sobre jornada de trabalho, intervalos e registro de ponto. A empresa deve analisar proposta de termo de ajuste de conduta (TAC), apresentada por ele, até o dia 4/7.

Avaliação

Para a tecnologista Maria Muccillo, a empresa deixou claro que Segurança e Saúde no Trabalho não fazem parte da sua politica de negócios. “Como organização empresarial se mostrou uma incubadora de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho, colocando em perigo a sua própria permanência no mercado diante do desafio da competitividade, como a inoperância relativa às questões que afetam diretamente a vida de seus trabalhadores. O quadro encontrado foi desolador, mas, nem por isso irreversível. Se o corpo de gestores e direção assumirem com seriedade e qualidade as ações concretas apontadas pelas recomendações técnicas e legais da Força Tarefa dentro do cronograma que lhe foi determinado, esta empresa poderá deixar de ser uma incubadora de acidentes, doenças relacionadas ao trabalho e perdas financeiras”, explica.

O Cerest/Urest identificou que não há gestão das questões de saúde dos trabalhadores dos frigorífico. “Observamos que os programas de saúde não existem efetivamente, bem como a CIPA. Os exames ocupacionais não ocorrem adequadamente para assegurar a integridade da saúde dos empregados e também não há investigação da relação dos agravos com o trabalho. Percebe-se que a prevenção de acidentes e adoecimento desta população não é realizada”.

O CREA constatou irregularidades como a falta de Análise Preliminar de Risco (APR), falta de adequação de máquinas e de instalações e inventário de maquinas previstas na NR 12. “Não  há  prontuário  das instalações elétricas e consequentemente não  há PPCI, SPDA, aterramento de máquinas. E os vasos de amônia não tem manutenção”.

“Administrativamente, encontramos um material genérico falando sobre ergonomia, como no PPRA e no PCMSO, e que não tem continuidade ou aplicabilidades alguma”, afirma a ergonomista Carine. “Quanto às atividades de produção vistas in loco, não há nenhum sinal de ter sido aplicada a Norma Regulamentadora (NR) nº 36, não há ergonomia, não há gestão, não existe cuidado com a saúde do trabalhador. É uma empresa relapsa e que está exposta a problemas graves em saúde e segurança do trabalhador”.

A FTIA, afirma que, apesar de encontrar uma planta com boa estrutura física, a expectativa da situação que esperavam encontrar se concretizou. “A falta de itens essenciais para uma boa condição de saúde e segurança do trabalho não fugiu à regra: ausência de uma gestão eficiente, falta de profissionais qualificados para garantir a legislação vigente, falta total de procedimentos de trabalho precedidos da ausência de análise de riscos, máquinas inadequadas para atendimento à NR 12, falta de treinamento para operadores e manutenção, situações claras de assedio moral e condutas inadequadas para com os trabalhadores, dentre tantas outras irregularidades encontradas. O movimento sindical anseia que com as recomendações apresentadas se possa erradicar os problemas de relação de trabalho nesta empresa”, afirma.

Ministério Público do Trabalho no Rio Grande do Sul (MPT-RS)

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