Não tem anjinho na parada – Por Jayme José de Oliveira

Jayme José de OliveiraO homo sapiens é uma espécie singular no planeta Terra. Diferencia-se dos demais por não estar restrito ao instinto impossível de ser contrariado. O livre arbítrio lhe permite a possibilidade de alçar voos às culminâncias da eticidade positiva ou ao báratro da concupiscência, egoísmo e, como uma vez disse Gerson, “levar vantagem em tudo”. O mais incompreensível, aparentemente, é que amiúde coexistam na mesma pessoa.

Líderes brasileiros podem ser listados nessa situação híbrida.

Getúlio Vargas, que nos legou a CLT, a Previdência Social e tantos outros benefícios apresentou um lado obscuro perfeitamente retratado por Jorge Amado, deputado do PCB, cassado e exilado em Paris onde escreveu a trilogia “Os subterrâneos da liberdade”, retratando as diatribes do Estado Novo (posso disponibilizar em PDF, sem ônus, a quem estiver interessado, pelo e-mail cdjaymejo@gmail.com). Luís Fernando Veríssimo o retratou como “O pai dos pobres e mãe dos ricos”.

Juscelino, Jânio, generais da ditadura, Sarney, Itamar, FHC, Lula e Dilma também podem ser arrolados como protagonistas de grandes feitos e lhes serem debitados malfeitos vários.

Na gestão FHC Geraldo Brindeiro ficou conhecido como o “Engavetador Geral da República”. Dos 626 inquéritos recebidos engavetou 242, arquivou 217 e somente 60 denúncias foram aceitas. Até a compra de votos da PEC que permitiu a reeleição é dessa época.

Na Ação Penal 470 foram julgadas e condenadas proeminentes figuras do alto escalão da república.

No momento a Lava Jato se estende em sucessivas etapas e não parece estar perto do final. Inicialmente figuras ligadas ao PP e PMDB abriram o cortejo, logo seguidas por políticos de diversos partidos inclusive o tesoureiro do PT João Vaccari Neto, dirigentes da Petrobras e diretores das maiores empreiteiras que mantinham contratos bilionários com a estatal.

Antevendo severas penas, muitos aderiram à delação premiada, corruptos, corruptores e autoridades entraram no roldão generalizado.

No dia 25/11/2.015 ocorreu algo inusitado, o senador Delcídio do Amaral foi preso, acusado de tentar obstruir a justiça e promover a fuga para a Espanha de Nestor Cerveró, um dos prisioneiros dispostos a colaborar com delação premiada. Confrontados com uma gravação explicitando o fato os juízes do STF não titubearam em ordenar a prisão, avalizada posteriormente pelo senado, em voto aberto.

Estrugiu como uma bomba na cúpula do PT, que não deu suporte ao senador, ao contrário do que ocorrera nos episódios da Ação Penal 470.

– Foi uma burrada definiu Lula em almoço com dirigentes da CUT. O ex-presidente foi consultado pelo presidente do PT Rui Falcão antes de emitir uma nota oficial na qual o partido não se solidariza com o senador.

A ministra Carmen Lúcia do STF assim se pronunciou:
“Na história recente da nossa pátria, houve um momento em que a maioria de nós, brasileiros, acreditou no mote segundo o qual uma esperança tinha vencido o medo. Depois, nos deparamos com a Ação Penal 470 e descobrimos que o cinismo tinha vencido aquela esperança. Agora parece se constatar que o escárnio venceu o cinismo. O crime não vencerá a Justiça. Aviso aos navegantes dessas águas turvas de corrupção e das iniquidades: criminosos não passarão a navalha da desfaçatez e da confusão entre imunidade, impunidade e corrupção. Não passarão sobre os juízes e as juízas do Brasil. Não passarão sobre novas esperanças do povo brasileiro, porque a decepção não pode estancar a vontade de acertar no espaço público. Não passarão sobre a Constituição do Brasil”.

Depois disso tudo e diante do contubérnio incestuoso do processo de impeachment onde as partes se digladiam para decidir quem mais prevarica, resta ao povo brasileiro, pacato, ordeiro, honesto e trabalhador esperar – sem muita convicção – que se invertam os polos e retomemos um caminho que nos leve à ORDEM E PROGRESSO.

SEM RUMO

Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado

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